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Pernambuco: de olho na prefeitura de Caruaru, pré-candidatos disputam benção de Raquel Lyra

No próximo mês de outubro, os cerca de 250 mil eleitores de Caruaru (PE) voltam às urnas e o quadro que se desenha, mais uma vez, é de protagonismo dos sobrenomes Lyra e Queiroz, que dominam a política local desde a redemocratização, há 40 anos.

Por Da Redação

24/02/2024 às 17:02:37 - Atualizado há

No próximo mês de outubro, os cerca de 250 mil eleitores de Caruaru (PE) voltam às urnas e o quadro que se desenha, mais uma vez, é de protagonismo dos sobrenomes Lyra e Queiroz, que dominam a política local desde a redemocratização, há 40 anos. O apoio da ex-prefeita e hoje governadora Raquel Lyra (PSDB) é principal trunfo para os postulantes. De um lado, o prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) quer resgatar a relação que está estremecida com sua antecessora. Na oposição, Zé Queiroz (PDT) também espera o apoio da governadora.

Pinheiro vai para a sua primeira disputa na cabeça de chapa. O tucano foi vice de Raquel Lyra nas eleições de 2016 e 2020. Mas em 2022, quando ela deixou o cargo para disputar o Palácio do Campo das Princesas, alguns gestos de Pinheiro aos adversários de Raquel desagradaram o ninho tucano. O prefeito foi apontado por alguns como "traidor", mas Lyra acabou eleita.

Hoje a relação entre os dois é amistosa publicamente, mas fala-se que Raquel perdeu a confiança no seu sucessor. Apesar de seguirem – por enquanto – no mesmo partido, o apoio de Lyra à reeleição de Pinheiro é incerto. E para os Lyra, é fundamental manter sua cidade natal com alguém de sua confiança.


O tucano foi vice-prefeito de Raquel Lyra de 2017 a 2022, quando ela deixou o cargo para disputar o Governo do Estado; hoje a relação entre os dois é amistosa publicamente, mas com desconfianças / Reprodução

Temeroso de não obter o apoio de Raquel, o tucano estuda migrar para o Republicanos ou PSD, buscando vincular sua imagem à base aliada do presidente Lula (PT). Outra possibilidade é se filiar ao PV, que está em federação partidária com PT e PCdoB, o que faria de Pinheiro o candidato oficial de Lula. O "cavalo de pau" pode ser uma manobra arriscada.

Há quem diga que Pinheiro está isolado. Mas, com a máquina pública nas mãos, ele tem conseguido "amarrar" lideranças locais e partidos menores. Recentemente o prefeito deu uma secretaria do município a Marcelo Gomes, liderança do PSB local e opositor de Raquel Lyra.

O principal adversário de Pinheiro na disputa deste ano é José Queiroz (PDT), dono de outro sobrenome poderoso na cidade. A família sofreu um duro golpe em 2022, quando o PDT não atingiu o coeficiente eleitoral nas disputas para deputado estadual e federal, resultando nas derrotas de Zé e seu filho Wolney. Este último nunca disputou a prefeitura como cabeça de chapa, tendo se construído em Brasília, com cinco mandatos federais. Hoje Wolney é secretário no Ministério da Previdência, com reduzida capacidade de influência no âmbito local.


Zé Queiroz já foi prefeito por 4 vezes; o filho Wolney é secretário de um ministério no governo Lula / Ricardo Stuckert/Presidência da República

Zé está sem cargo. Ainda que enfraquecido, o patriarca conta com um recall de quatro mandatos à frente do executivo municipal, tendo sido eleito prefeito de Caruaru nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010. Aos 82 anos, ele conta com essa memória popular para ir em busca do "penta". E quem lhe deu uma sinalização recente foi a governadora Raquel Lyra. No início de fevereiro a tucana recriou a Secretaria de Criança e Juventude e a colocou nas mãos de Ismênio Bezerra, indicado do PDT com o aval de Wolney Queiroz. Não seria inédito ver as duas famílias no mesmo palanque municipal.

Zé Queiroz sofreu uma condenação por improbidade administrativa por deixar pendente o repasse de R$ 737 mil ao fundo de previdência municipal, o CaruaruPrev, no ano de 2012, quando era prefeito. A condenação na 2ª vara da Fazenda Pública, comarca de Caruaru, ainda é em primeira instância e não deve impedir Queiroz de participar da disputa eleitoral.

Decadência de uns, oportunidades para outros

Se em 2022 a governadora eleita foi uma caruaruense, a cidade também sofreu algumas derrotas. Seus três deputados estaduais – Zé Queiroz (PDT), Tony Gel (MDB) e Erick Lessa (PP) – perderam seus mandatos, cenário amenizado pela vitória de Rosa Amorim (PT). Entre os dois federais, Wolney (PDT) foi derrotado e Fernando Rodolfo (PL) se manteve em Brasília. Em resumo, o município agora só tem uma estadual e um federal – e ambos são pré-candidatos à prefeitura.

Campo progressista busca seu espaço

Cria do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), nascida no Assentamento Normandia, zona rural de Caruaru, Rosa Amorim se destacou na militância, como jovem e estudante, fazendo oposição aos governos Temer e Bolsonaro. Foi escolhida pelo MST para representar as demandas do povo do campo e dos jovens da cidade na disputa de 2022, saindo vitoriosa com 42,6 mil votos e uma cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Aos 27 anos, Amorim busca fortalecer seu nome junto à população de sua cidade. Ela lançou sua pré-candidatura com a presença do senador Humberto Costa (PT) e contou com a participação de Michele Santos, dirigente municipal do PSOL. Outro nome ventilado pelo PT é o do dirigente municipal Léo Bulhões, assessor da senadora Teresa Leitão (PT).


Rosa Amorim (PT) e Armandinho (SD) são pré-candidatos; Marcelo Gomes (PSB), candidato em 2020, está na base do prefeito; / Divulgação

Após Rosa, Bulhões também colocou seu nome como pré-candidato, mas em entrevistas ele cita um possível apoio à candidatura de Zé Queiroz (PDT). O melhor desempenho da história do PT na disputa pela Prefeitura de Caruaru foi o 2º lugar de 2004, quando o partido abrigou a candidatura de João Lyra, hoje tucano.

Recentemente Léo Bulhões sofreu um processo interno que pedia sua expulsão. O desgaste aconteceu porque o escritório de contabilidade contratado pelo PT local para as eleições de 2020 cometeu erros na prestação de contas dos candidatos, o que resultou em multas individuais determinadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

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Outro nome que tende a estar em palanque distinto dos Lyra é o do forrozeiro Armando Dantas, o Armandinho. Além de artista, ele é professor com pós-graduação em educação. Filiado ao Solidariedade (SD), foi candidato a deputado estadual em 2022, obtendo 6,1 mil votos.

A ex-deputada Marília Arraes, que comanda o partido em Pernambuco e foi derrotada por Raquel na disputa pelo Governo do Estado, já anunciou que ele será o seu candidato à prefeitura. Armandinho mantém diálogo aberto com os pré-candidatos Zé Queiroz (PDT), Erick Lessa (PP) e Raffiê Dellon (UB).

Outra família tradicional da política local que busca reconquistar espaço são os Gomes, que comandam o PSB em Caruaru. A família não disputou cargos eletivos em 2022 e vive situação delicada. O PSB, em nível de estado, precisa enfraquecer os Lyra se deseja tomar de volta o Palácio do Campo das Princesas em 2026.

Mas, frágeis eleitoralmente, os Gomes aceitaram abrigo na gestão municipal. Marcelo Gomes (PSB) é secretário de Planejamento da gestão Rodrigo Pinheiro (PSDB), que por sua vez espera manter o apoio da governadora Raquel Lyra.

Filho do ex-vice-prefeito Jorge e da ex-deputada Laura, Marcelo foi vereador e candidato derrotado à prefeitura em 2020, com 3,5 mil votos (2%, em 4º lugar). Até o momento não sinalizou que participará da disputa.

Direita entre Raquel, Pinheiro e Bolsonaro


Os nomes de Erick Lessa (PP), Fernando Rodolfo (PL), Raffiê Dellon (UB) e Tonynho Rodrigues (MDB) estão no tabuleiro para cabeça de chapa ou vice / Divulgação

O conservador Fernando Rodolfo (PL) é outro nome que sonha com o apoio da governadora. Natural de Garanhuns, mas residindo em Caruaru, ele se tornou popular como apresentador de um programa policialesco. Foi eleito deputado federal na onda bolsonarista de 2018 e reeleito em 2022. Rodolfo destaca seu apoio à governadora Raquel Lyra, na esperança de obter seu apoio na campanha à prefeitura.

O pré-candidato tem dedicado muito espaço nas suas redes sociais a atacar a gestão do prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB). Recentemente chegou a dizer que o tucano "não tem caráter", ao citar as rusgas de Pinheiro com Lyra. O ato de lançamento da pré-candidatura contou com a presença do presidente do PL, o agora preso Valdemar da Costa Neto, além de um vídeo de apoio do ex-presidente Bolsonaro.

No mesmo campo político está o delegado Erick Lessa (PP), 2º lugar no pleito de 2020 e pré-candidato novamente. Na última eleição municipal ele teve 32,9 mil votos (19,2%), sendo liquidado por Lyra ainda no 1º turno. Mas na ocasião ele era deputado estadual. Ao tentar se reeleger deputado, em 2022, seus 37,8 mil votos não foram suficientes para a reeleição.

Pesquisa realizada em novembro de 2023 pelo instituto Ipespe colocava Lessa em 3º lugar, com 16%. Mas sem mandato e sem padrinho político, a corrida eleitoral deste ano pode ser mais complicada para Lessa. Recentemente ele se reuniu com Zé Queiroz (PDT) e realizou atividade externa com Fernando Rodolfo (PL).

Policial civil, conservador, Lessa com frequência adota o discurso religioso. Sua pauta central é a segurança pública. Apesar de por princípio ser um candidato de oposição, nas suas redes ele tem evitado críticas diretas ao prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) ou à gestão municipal. Não será grande surpresa se abrir mão da candidatura e surgir como vice em alguma chapa.

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Ainda no campo da direita, Raffiê Dellon (União Brasil) deve estar na disputa mais uma vez. Em 2020 ele teve 15 mil votos (8,75%) e foi o 3º colocado na busca pela prefeitura. Em 2022 foi candidato a deputado estadual e teve 16,3 mil votos, não conquistando uma cadeira. Hoje ocupa um cargo na Sudene. É mais um nome que pode aparecer como vice em alguma chapa. O empresário bolsonarista e ex-senador Douglas Cintra (Podemos), derrotado na disputa para deputado federal (2022) com apenas 546 votos, também quer ser lembrado no jogo.

Outro nome tradicional na política da Capital do Forró é o do ex-prefeito e radialista Tony Gel (MDB). Prefeito por 8 anos (2001-209), deputado federal por 10 anos (1991-2000) e estadual por 12 anos (2011-2022), hoje Gel não tem mandato e é mais um que se aliou a Raquel Lyra.

Ele ganhou cargo na estatal de gás natural Copergás e seu filho Tonynho Rodrigues ocupa cargo na estatal de turismo, a Empetur. O herdeiro deve ser colocado na disputa eleitoral, mas ainda não se sabe em que posição. Tony Gel declarou publicamente apoio à candidatura de Zé Queiroz (PDT) e disse acreditar que a governadora pode fazer o mesmo movimento.

Pesquisa

Levantamento do instituto Ipespe divulgada em novembro colocava Zé Queiroz (31%) e Rodrigo Pinheiro (29%) tecnicamente empatados na disputa pela prefeitura. Em terceiro aparece Erick Lessa (16%). Já Raffiê Dellon, Fernando Rodolfo, Tonynho Rodrigues, Armandinho e Rosa Amorim foram citados, mas estão abaixo dos 5% das menções.

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