Desde priscas eras a Ceia de Natal é uma tradição planetária.
Desde priscas eras a Ceia de Natal é uma tradição planetária. Além das delícias na mesa, é o encontro de fim de ano das famílias e das legiões de amigos. Como não existia a modernidade atual, tudo era preparado na cozinha dos lares antigos, sem luxo mas com a simplicidade de que tudo era feito com amor.
Era um acontecimento esperado durante o ano inteiro, nem na virada do ano (Ano Novo) eram tão harmonioso e feliz como naquele jantar hiper especial celebrando o nascimento de Jesus! O amor e a fraternidade estavam no ar!!!
Os preparativos começavam cedo na véspera do Natal. As donas-de-casa, animadíssimas, começavam a preparar as guloseimas que agradavam adultos e crianças. Tudo que era doce era disputado durante o dia⦠e antes mesmo da ceia. Uns bebericavam cervejotas durante a tarde, mas a galerinha queria doooces.
No ar respirávamos aqueles aromas inesquecíveis de nóz-moscarda, aniz estrelado, canela, orégano, mel, gengibre, cravo e outras tantas especiarias que invadiam a cozinha, onde nossas mães começavam a preparar bolos e confeites típicos natalinos.
Todos esses ingredientes eram comprados nos armazéns de secos & molhados. Nada de consumir industrializados, até porque os quitutes desse tipo cheios de adoçantes, colorantes e aromatizantes como os de hoje não existiam aqui em Umuarama. Era tudo natural!
A festa natalina daquela época era mais trabalhosa, artesanal mesmo. Era a verdadeira arte culinária caseira, temperada com muito carinho pelas mães e avós prendadas e exigentes com a qualidade e o sabor daquelas delícias que iam servir à mesa. Tudo feito em casa, como mandava a tradição.
Bolachas e bolos de mel. E criavam até o bemdito panetone, mas que era recheado apenas com uvas passas – nada de frutas cristalizadas que eles consideravam enjoativas e que às vezes provocavam vômitos em crianças.
Conforme as horas iam passando, elas davam o próximo passo: as comidas. Nem todo mundo era italiano em Umuarama, mas as massas eram unanimidade. Macarronadas fantásticas, com molho de tomate natural e com aquele maravilhoso queijo parmesão puríssimo 'made in Italy' que os armazéns traziam de São Paulo ou Curitiba especialmente para vender nesta época. Não podam faltar as pizzas e as lazanhas.
A maioria da população tinha em casa, além do fogão a lenha, um forno no fundo do quintal, onde assavam pães e bolos durante o ano inteiro. E na temporada natalina era o lugar para assar todo tipo de carnes, principalmente costelas de boi e frangões.
O sabor é infinitamente superior às carnes assadas em modernos fogões a gás ou elétricos – isso os culinaristas provam e comprovam. Essa ação começava no início da noite e seguia em frente, passando pela Ceia e na madrugada aforaâ¦ É incrível como o pessoal tinha tanta 'fome' para passar a noite inteira comendo, comendo, comendoâ¦
Os ponteiros dos relógios marcavam 23:30 horas⦠E começava o corre-corre das mães e avós, indo e vindo distribuindo as travessas pelas mesas espalhadas lá fora no quintal. Dentro de casa era impossível, pois o calor era enlouquecedor (verão quentíssimo na parada + calor do fogão a lenha!). E a galera da família, parentes & amigos voava ocupando as cadeira e de garfo e faca nas mãos 'atacavam' as delícias que fumegavam o aroma encantador dos alimentos bem preparados.
Um detalhe que chamo a atenção: Alguns dos leitores podem pensar que estou me referindo às Ceias de Natal das famílias ricas, da 'zelite' do passado, mas não⦠Desde os humildes trabalhadores até os poderosos fazendeiros tinham esse jantar celebrando a data especial com muita fartura e um cardápio variadíssimo. E sem mixarias, às vezes até sobrava comida para o almoço do Natalâ¦
Era um tempo em que não se pensava em ganância, no egoísmo de economizar e ninguém era escravizado pelo dinheiro. Todo mundo vivia bem independente da classe social, pois de uma forma geral todos trabalhavam na agricultura ou na cidade o ano inteiro e tinham renda para poder ter uma mesa com os alimentos que uma boa saúde exige ter. Ainda mais num dia maravilhoso como é o 25 de dezembro! Seria injustiça consigo mesmo passar vontade ou fazer alguém ficar sem comer o que sonhavaâ¦
E isso acontecia porque o trabalho antigamente era valorizado pois os empregados recebiam excelentes salários dos empregadores.