Sociedades cientĂficas expuseram nesta quinta-feira (7), no Rio de Janeiro, as contribuições que vĂȘm sendo dadas ao Ministério da SaĂșde, e que podem ser intensificadas, no enfrentamento dos cânceres sensĂveis à vacinação contra o Papiloma VĂrus Humano (HPV).
As diversas entidades presentes participaram do evento "Vacina e prevenção do câncer: vĂĄrios olhares, muitos desafios", promovido pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), em parceria com a Organização Pan-Americana da SaĂșde (Opas) e organizações não governamentais (ONGs).
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Mônica Levi, destacou entre as ações que podem ser ampliadas o apoio à vacinação nas escolas e a capacitação de profissionais que atuam na imunização. Para retomar a confiança da população brasileira na vacinação e combater as notĂcias falsas, ela indicou a necessidade de reforço na divulgação dos benefĂcios da vacinação, com elaboração de cartilhas e cartazes, entre outros instrumentos, além de auxĂlio às iniciativas municipais e estaduais.
Mônica salientou a importância de serem criadas novas formas de sensibilizar as gerações mais jovens para a vacinação contra o HPV, além do jĂĄ conhecido personagem do Zé Gotinha. Ela propôs ainda aprofundar a campanha "Quem vacina não vacila" no dia a dia das escolas. "É o caminho para ter as coberturas vacinais". A presidente da SBIM sugeriu a construção de um vĂdeo de animação de quatro a cinco minutos de duração para explicar à sociedade como o vĂrus HPV pode resultar em câncer anos depois, para exibição em salas de aula, no intuito de ajudar os profissionais de educação na conscientização das crianças e adolescentes sobre a importância da imunização.
ClĂnico da mulher
A presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e ObstetrĂcia (Febrasgo), CecĂlia Maria Roteli Martins, disse ser preciso redefinir a comunicação sobre infecções de transmissão sexual, inclusive nas redes sociais, além de intensificar a vacinação para pessoas com HIV/Aids.
Ela recomendou ainda a vacinação contra HPV para mulheres com lesões de alto grau no colo do Ăștero diagnosticadas biologicamente. Segundo a presidente da CNE da Febrasgo, é importante incentivar a integração entre os ministérios da Educação e da SaĂșde para a disseminação de informações e o desenvolvimento de estratégias vacinais, com orientações para pais e responsĂĄveis. Mostrou também preocupação com a hesitação vacinal. "Os ginecologistas tĂȘm que tentar diminuir essa hesitação, que é uma tendĂȘncia no Brasil que deve ser eliminada", sugeriu.
Orofaringe
Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), a doutora Izabela Costa Santos relatou que o câncer de orofaringe é o de menor incidĂȘncia dentre os cânceres provocados pelo HPV.
A cirurgiã afirmou que para a ĂĄrea de cabeça e pescoço, o HPV foi um marco importante e provocou uma mudança grande no diagnóstico e tratamento a partir do ano 2000, levando os médicos a procurarem entender o que era essa patologia. As alterações são diferentes em pacientes com HPV positivo e aqueles relacionados com uso de tabaco e ĂĄlcool, explicou.
Uma novidade introduzida a partir de 2012 foi a abordagem de pacientes com câncer de orofaringe com cirurgia robótica, em substituição ao procedimento invasivo anterior, que incluĂa uma mandibulectomia (abertura do rosto do paciente) para fazer ressecção ou tratamento com quimioterapia e radioterapia, que oferecia resultados difĂceis. "Essa questão do ganho dessa tecnologia é até mesmo no tempo de internação", comentou Izabela.
Cobertura vacinal
A vacinação é considerada estratégia crucial para prevenir a infecção pelo HPV. Uma das metas é atingir 90% de cobertura vacinal entre meninas de até 15 anos, para reforçar as ações de vacinação contra o HPV no Brasil. No entanto, a cobertura vacinal permanece abaixo do esperado, especialmente entre os meninos. Dados do Ministério da SaĂșde mostram que, em 2021, somente 57,2% das meninas e 37,69% dos meninos tomaram as duas doses da vacina e estão com o calendĂĄrio vacinal em dia, enfatizando a necessidade de maior engajamento na vacinação.
A vacinação contra o HPV no Brasil é realizada pelo Sistema Ănico de SaĂșde (SUS), sendo disponibilizada para meninas e meninos entre 9 e 14 anos, com a administração de duas doses.
Também podem se vacinar mulheres e homens de 15 a 45 anos que apresentam uma das seguintes condições: pessoas vivendo com HIV, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea, pacientes oncológicos, imunossuprimidos por doenças e/ou tratamento com drogas imunossupressoras e vĂtimas de violĂȘncia sexual. De acordo com o ministério, esses grupos são mais suscetĂveis a infecções persistentes pelo HPV e tĂȘm um risco elevado de desenvolver câncer e outras complicações associadas ao vĂrus.
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