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Morcego raro é reencontrado no Paraná após mais de um século sem registros

Animal capturado por pesquisadores brasileiros em uma unidade de conservação na cidade de Palmas sofre risco severo de extinção com a fragmentação de seu habitat

Por Redação

23/11/2023 às 13:27:08 - Atualizado há
Morcego raro foi reencontrado em uma floresta de araucárias no Sudoeste do Paraná - Foto: Vinícius C. Cláudio/Fiocruz/Promasto

Mais de um século após sua primeira documentação, o morcego Histiotus alienus foi reencontrado entre os campos naturais e as florestas de araucárias do Paraná. Publicado em setembro no periódico ZooKeys, o novo avistamento aprofunda o conhecimento sobre esse mamífero voador da Mata Atlântica.

O morcego pequeno, de cerca de 12 centímetros da cabeça aos pés, foi documentado inicialmente em 1916 pelo naturalista inglês Michael Rogers Oldfield Thomas, depois de ser capturado em Joinville, no orte de Santa Catarina. O profissional trabalhou por décadas para o Museu de História Natural de Londres, aposentando-se em 1923.


O corpo do morcego foi catalogado entre as espécies da biodiversidade da América do Sul no museu britânico. Desde então, nenhum outro registro de um exemplar de H. alienus havia sido feito. Até que, em 2018, pesquisadores brasileiros interceptaram um desses animais em uma unidade de conservação em Palmas, no sudoeste do Paraná.


Os especialistas capturaram o morcego com uma rede de neblina, malha de náilon que foi instalada em pontos estratégicos do refúgio. A captura ocorreu durante um trabalho do projeto Promasto ("Mamíferos do Refúgio de Vida Silvestre dos Campos de Palmas e do Parque Nacional dos Campos Gerais"), que reúne cientistas do Laboratório de Análise e Monitoramento da Mata Atlântica (Lamma) da UFPR, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


A equipe comparou o exemplar com dados de outros países, concluindo primeiro que se tratava de um morcego do gênero Histiotus, cuja principal característica são as orelhas em formato de vela. Outro fator característico é o corpo coberto por pelos amarronzados.


Esses morcegos comem insetos e habitam boa parte da América do Sul. "No momento da captura percebemos que alguns dos caracteres morfológicos [características físicas] eram diferentes do esperado para as espécies que poderiam ocorrer no local, podendo talvez se tratar de uma nova espécie ou alguma espécie não registrada no Brasil", conta Vinícius Cardoso Cláudio, pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica, ao portal Ciência UFPR.


Inicialmente, os cientistas suspeitaram que o morcego poderia ser da espécie Histiotus bonariensis, que é mais comum, ou da Histiotus montanus, registrada pela primeira vez no Paraná em 2006. Mas as orelhas do animal eram menores do que as dos demais morcegos do gênero, além de triangulares e conectadas por uma membrana. A espécie também tinha costas com pelos escuros.


Então os pesquisadores compararam o animal com o primeiro exemplar recolhido de H.alienus , que está em Londres. Segundo conta Liliani Marilia Tiepolo, coordenadora do projeto de pesquisa, o achado foi muito significativo, pois traz luz a uma série de novas informações científicas sobre o morcego, incluindo sua evolução, relações de parentesco e morfologia.


"Pode ser uma espécie naturalmente rara", afirma Tiepolo. "Pode ser uma espécie que sofreu muito o impacto da devastação da Mata Atlântica, tanto no passado quanto no presente. Ou pode se tratar de uma espécie que é difícil de ser coletada com técnicas tradicionais."


Uma análise inicial de especialistas do Lamma, que coordenam a lista vermelha de mamíferos no Paraná, sugere que a espécie corre risco severo de extinção. "A comunidade de especialistas em morcegos que esteve presente nas oficinas de avaliação foi unânime em considerar que a espécie, em nível regional, passa a ser considerada como criticamente ameaçada de extinção no Estado do Paraná", diz Tiepolo.


Segundo os pesquisadores, o morcego sofre com um alto grau de fragmentação de seu habitat no Paraná, onde unidades de conservação são relativamente pequenas e descontínuas. Os ambientes estão sendo transformados em pastagens, monocultivos agrícolas e área comercial de plantio de pinus e eucalipto.


Outros problemas para a sobrevivência dos morcegos são a expansão da energia eólica em Palmas e das hidrelétricas na Bacia do Rio Iguaçu, além do aumento do desmatamento da Floresta Atlântica no Paraná nos últimos cinco anos.

Fonte: Galileu
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