Advogado de defesa do hacker também pediram inclusão no programa de proteção à testemunha. Mensagem de áudio atribuído à assessora de Zambelli é usado pela defesa para provar que Delgatti foi contratado para interferir nas eleições.
A defesa de Walter Delgatti Neto pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a revogação da prisão preventiva e que ele conceda liberdade provisória com medidas cautelares ao hacker. Não há prazo para o STF responder a este pedido de revogação.
Delgatti está preso por causa da investigação que apura a suspeita de que ele foi pago pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) para invadir sistemas eletrônicos do poder Judiciário.
Nesta segunda-feira (21), Delgatti foi condenado a 20 anos de prisão na Operação Spoofing por invadir celulares de autoridades da Lava Jato e vazar mensagens.
Ainda, seguindo o entendimento da CPI dos Atos Golpistas, o advogado de Delgatti também pediu a inclusão do hacker no programa de proteção à testemunha.
Moraes decretou a prisão preventiva de Delgatti, alegando que não era possível comprovar que ele não tinha mais acesso a sistemas do Judiciário e, por isso, além de cometer novas invasões, ele poderia agir para atrapalhar as investigações, adulterando dados e documentos eletrônicos de testemunhas.
A reportagem apurou que a defesa do hacker argumentou que a invasão aconteceu em janeiro passado e que Delgatti apenas se utilizou do acesso no dia 4 do mesmo mês. Que ele cumpriu ordens da deputada Carla Zambelli, que tinha o objetivo de descredibilizar os sistemas do Judiciário e a lisura das eleições de 2022.
Com a ação, de acordo com o hacker, Zambelli queria criar um caos institucional, o que resultou nos atos golpistas de 8 de janeiro. Disse, ainda. que a invasão nos sistemas da Justiça produziu efeitos em janeiro e, por esses motivos, não há mais risco de novas invasões.
A defesa argumentou também que, por estar desempregado, Delgatti se viu obrigado a aceitar a proposta feita pela deputada. E que, ao contrário do entendimento de Moraes, de que o hacker poderia obstruir as investigações, os advogados apontam que Delgatti está colaborando com as investigações. A defesa alega que a prisão impõe risco de vida ao hacker, principalmente depois do depoimento dado à CPI dos Atos Golpistas.
Mensagem em áudio
A defesa de Delgatti entregou uma mensagem de áudio à PF na sexta-feira (18) que, segundo o hacker, comprovara que ele foi contratado por Carla Zambelli para interferir nas eleições de 2022, fazer os eleitores desacreditarem nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral.
Ele afirma se tratar de uma mulher de nome "Cris", que seria assessora da deputada do PL. O áudio, que é analisado pela PF e que consta no inquérito, teria sido enviado para ele no primeiro turno das eleições do ano passado.
Depoimento à CPI
Em depoimento à CPI dos Atos Golpistas do Congresso, na semana passada, Delgatti fez denúncias sobre Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o hacker, em uma reunião com assessores de campanha de Bolsonaro, ele foi aconselhado a criar um "código-fonte" falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável e passível de fraude.
Ele disse que a deputada lhe levou a um encontro com Bolsonaro na residência oficial do Palácio da Alvorada antes da eleição de 2022.
Na ocasião, segundo Delgatti, o então presidente assegurou que concederia um indulto (perdão presidencial) a ele, caso fosse preso ou condenado por ações sobre urnas eletrônicas.
Delgatti disse que orientou técnicos do Ministério da Defesa que elaboraram relatório oficial da pasta sobre as urnas eletrônicas. O documento, posteriormente, foi entregue ao TSE, em novembro de 2022.
O relatório não apontou qualquer fraude na votação, mas pediu que o TSE fizesse "ajustes" no sistema eleitoral já rejeitados tecnicamente por entidades fiscalizadoras e disse que não era possível atestar a "isenção" das urnas.