O coordenador humanitário da ONU (Organização das Nações Unidas) no Sudão, Abdou Dieng, afirmou estar "horrorizado" com o número de vítimas civis nos confrontos iniciados na última semana. Segundo os dados, mais de 300 pessoas foram mortas em todo o país, incluindo cinco trabalhadores humanitários, e cerca de 3,2 mil ficaram feridas.
Os confrontos entre as tropas do exército nacional e a milícia rival conhecida como Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês) eclodiram há seis dias, impactando a vida da população e a operação de ajuda humanitária em andamento em todo o país.
O coordenador afirmou que breves pausas acordadas entre as facções rivais, que até agora ignoraram todos os pedidos de cessar-fogo, permitiriam aos civis o acesso a alimentos e água.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos hospitais há uma grave escassez de pessoal médico especializado, suprimentos de oxigênio e bolsas de sangue. Além disso, a falta de eletricidade e os apagões colocam os pacientes hospitalizados em alto risco.
Segundo Abdou Dieng, as necessidades de saúde mental e apoio psicossocial, especialmente entre as crianças, também estão aumentando rapidamente à medida que o conflito continua.
Cerca de 15,8 milhões de pessoas no Sudão, um terço da população, já precisavam de assistência humanitária antes do início dos combates desta semana.
Na quinta-feira (20), o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo urgente por um cessar-fogo de três dias como o "primeiro passo" para uma cessação permanente das hostilidades, observando que as operações humanitárias se tornaram "praticamente impossíveis".
A ONU tem uma equipe de quatro mil trabalhadores humanitários, sendo 3,2 mil cidadãos sudaneses.
O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), expressou seu pesar ao confirmar a morte de um funcionário no Sudão na sexta-feira (21). O veículo em que viajava com sua família ao sul de El Obeid foi pego em um fogo cruzado entre duas partes opostas.
António Vitorino disse que o trabalhador deixa esposa e um filho recém-nascido, com "a equipe no Sudão de luto".
Para ele, a segurança de todos os funcionários da OIM é prioridade. Vitorino afirmou que a agência continua trabalhando com parceiros para manter a resposta ao conflito.
A onda de violência forçou a agência a suspender suas operações humanitárias no Sudão. O diretor da agência de migração da ONU afirmou que operam no Sudão desde 2000, respondendo às complexas necessidades humanitárias do país, onde há cerca de 3,7 milhões de deslocados internos.
A diretora da ONU Mulheres também emitiu uma declaração expressando preocupação sobre o efeito dos combates em curso sobre as mulheres e meninas sudanesas.
Sima Bahous afirmou que a crise terá impactos terríveis e desproporcionais na vida das mulheres e meninas sudanesas. Ela expressou sua solidariedade com o povo sudanês e reforçou seu comprometimento em apoiá-lo.
A chefe da ONU Mulher também destacou que já estão surgindo denúncias de violência sexual e de gênero, e teme que "se tornem cada vez mais frequentes" e pediu às tropas e milícias do governo que "garantissem que nenhuma mulher ou menina seja afetada por esses crimes".
Ela insistiu que "todos os casos" de violência sexual e de gênero devem ser investigados e processados ??sem exceção.