Economia

Banco comunitário cria seu próprio e-dinheiro no Pará

Por Da Redação

27/11/2022 às 14:28:24 - Atualizado há


Desde o início das atividades, o banco vem beneficiando cerca de 9 mil pessoas que vivem na comunidade rural Baía do Sol.


Ali, os moradores já estão habituados a transferir e a utilizar uma moeda local, o moqueio (equivalente a R$ 1), valorizando o que é produzido no distrito e evitando que o dinheiro saia da comunidade. O desafio do Tupinambá, o único em atividade no Pará, agora é tornar todas essas transações digitais.


A proposta se alinha ao momento de crescimento no setor. Segundo estudo da idwall, empresa de tecnologia e segurança, a estimativa é de que 184 milhões de contas digitais sejam abertas no Brasil até o fim deste ano, o que representa uma alta de 15% na comparação com 2021.
Alguns fatores, no entanto, impedem um avanço mais rápido na criação das moedas digitais, iniciativa que começou a ser aplicada em 2019. Um deles é a capacitação da comunidade, outro a dificuldade de acesso à internet na região.


Embora a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aponte que Mosqueiro tem 100% de cobertura 2G, 3G e 4G na área mapeada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, o sinal é lento e até inexistente em alguns pontos da ilha, de acordo com os moradores.


Só com uma internet de qualidade e a garantia de que todos os moradores tenham um bom smartphone será possível usar a fintech.
A autônoma Ana Carla Gomes, 45, de Baía do Sol, usa o banco comunitário com frequência, mas não consegue fazer transações com o dinheiro digital porque não tem um celular com memória suficiente e o sinal "falha muito".


Em mais de uma década usando o serviço, Ana cita vários benefícios do banco, o maior deles é o fato de os moradores poderem pagar suas contas sem sair da área rural. "Antes era preciso ir até outras localidades para pagar na lotérica. Eram R$ 8 a cada vez e tinha de ir ao menos três vezes por mês.


Agora, pago os boletos pelo banco com uma pequena taxa." Além disso, ela elogia a política de financiamento para pequenos empreendimentos com a moeda social e diz que empresta dinheiro do banco comunitário sempre que precisa.


"O Pix ajudou muito. As pessoas perderam o medo de utilizar essa forma de pagamento. O nosso dinheiro digital é tipo o Pix, sai de um smartphone e cai em outro", explica o coordenador do Tupinambá, Marivaldo Vale.


Atualmente, cada transação gera uma taxa de 2%, sendo metade para a plataforma e metade para o banco. Os recursos são revertidos para a comunidade. Uma vantagem do dinheiro digital, segundo Marivaldo, é a economia na produção do dinheiro físico. Na época em que o moqueio foi feito, as cédulas custaram de R$ 6 mil a R$ 7 mil, e hoje chega a R$ 10 mil. Com essa economia, a instituição teria mais caixa para investir em projetos sociais, por exemplo. A atuação do banco já conta com uma horta comunitária, capacitação de mulheres e produção de mel.


No Brasil, cerca de 60 dos 152 bancos comunitários existentes já possuem o e-dinheiro, segundo a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. A entidade prepara um material didático com orientações para incentivar novas iniciativas. Mestre em economia e pesquisador em economia solidária, o professor João Claudio Arroyo, da Universidade da Amazônia (Unama), considera como uma inovação positiva a criação da moeda digital no Pará.


"Tanto o dinheiro social físico como o digital dão a oportunidade de que a comunidade beneficiada assuma o controle do seu próprio fluxo monetário social", afirma.


Além da Baía do Sol, o banco comunitário tem fluxo financeiro em outros três pontos da Ilha de Mosqueiro e em municípios vizinhos, como Colares e Santo Antônio do Tauá. Com o e-dinheiro existe a possibilidade de atender ainda outros lugares do Pará por meio da universalização da moeda.


Arroyo acredita que o arquipélago do Marajó, que reúne 16 municípios do Pará, por exemplo, também poderia ser alcançado pela iniciativa, uma vez que tem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo do país e precisa de incentivo a partir das comunidades.


"A iniciativa, no entanto, deve partir das comunidades, pois, caso contrário, não será comunitário. O que se deve trazer 'de fora' é a informação e a formação. Sem o desenvolvimento sustentável da Amazônia, o Brasil não terá soberania, e os bancos comunitários já possuem o DNA necessário para a disrupção inovadora que o país precisa e a região merece", afirma o professor.

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Jornalista Luciana Pombo

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