Geral Curta

"Aos pés de um filme de Godard" ("Selvagem")

Por Da Redação

13/09/2022 às 14:34:31 - Atualizado há

Outro ponto importante era a montagem, feita de maneira a incomodar o espectador, com passagens de cena perceptíveis e truncadas em cortes bruscos, câmera na mão e diálogos existenciais. Godard queria revelar os mecanismos narrativos, desmistificando a ideia de que na telona a realidade era reproduzida fielmente.

Com o passar do tempo, o diretor se aprofundou nesse rompimento estético, produzindo longas-metragens cada vez mais herméticos e rebeldes, feitos muitas vezes a partir de colagens.

Segundo Araújo, Godard experimentava. E chegou à TV, com as séries “Seis Vezes Dois”, de 1976, e “France, Tour, Détour, Deux Enfants”, de 1977. “A partir daí, seus filmes podem ser definidos, cada vez mais, por um novo gênero – o ensaio cinematográfico. Nem ficção, nem documentário, às vezes os dois, às vezes nenhum”.

FILMES
Godard trabalhou até os últimos dias de sua vida, produzindo uma obra extensa com mais de 40 longas em 70 anos de carreira.

No currículo, estão clássicos como “Acossado” (1959), “Viver a Vida” (1962), “Alphaville” e “O Demônio das Onze Horas”, ambos de 1965, “Week-End à Francesa” (1967), “Carmen” (1983), “Eu Vos Saúdo Maria” (1985) e “Adeus à Linguagem” (2014).

Em 2014, Godard ganhou o prêmio do júri do Festival de Cannes por “Adeus à Linguagem”. Em 2018, concorreu pela Palma de Ouro em Cannes com “Imagem e Palavra”, uma reflexão sobre o cinema e o mundo.

Além de vários Ursos em Berlim e Leões em Veneza, ele recebeu homenagens pelo conjunto de sua obra em premiações como o César, o Oscar e em Cannes.

Em março de 2021, então com 90 anos, ele anunciou que faria mais dois filmes antes de se aposentar.

Sua produção mais recente, “Imagem e Palavra (The Image Book)”, foi lançada em 2018 durante o Festival de Cannes.

Filme “O Demônio das Onze Horas” (1965)

BRASIL
No Brasil, um diretor influenciado por Jean-Luc Godard é o baiano Glauber Rocha (1939-1981). A partir dos anos de 1960, o brasileiro se tornou um ícone do Cinema Novo, vertente influenciada pela produção europeia, principalmente o Neorrealismo italiano e a Novelle Vague. O lema cinemanovista era “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

No caso de Glauber, um caso de anti-Hollywood até a raiz de seus cabelos cacheados, é possível ver a presença godardiana na construção das cenas, ao desnudar a montagem e revelar o mecanismo por trás do encadeamento dos planos. O baiano não queria saber de set de filmagens em estúdios ou artificialismos, preferindo o sertão e a luz estourada do sol. Eram tempos de “estética da fome”.

Assim como Godard, o brasileiro também caminhou para o hermetismo narrativo, compondo filmes como “Terra em Transe” (1967) e “A Idade da Terra” (1980).

*****Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

Comunicar erro

Comentários Comunicar erro

Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo