Geral Coronavírus

Coreia do Norte importou itens ligados à Covid bem antes de surto da doença

Por Da Redação

05/06/2022 às 14:50:17 - Atualizado há

É possível que o surto de Covid-19 na Coreia do Norte, que começou em maio, tenha sido previsto pelo governo local. É o que sugere uma análise dos dados alfandegários da China, que aponta a importação por Pyongyang, desde o mês de janeiro, de milhares de itens de combate à doença, como máscaras de proteção e respiradores mecânicos. As informações são do jornal South China Morning Post.

No caso dos equipamentos terapêuticos de respiração, os dados mostram que nenhum foi comprado pela Coreia do Norte no ano passado. O balanço passou a exibir tais itens em janeiro, totalizando US$ 2.769 no primeira mês de 2022. O gasto nesse tipo de produto deu um salto brusco em abril, para US$ 266.891. Deve-se sobretudo à compra de mil ventiladores não invasivos, geralmente usados para aliviar falta de ar e o baixo nível de oxigênio no sangue.

Luta contra a Covid-19 na cidade de Chernivtsi, na Ucrânia (Foto: Mstyslav Chernov/WikiCommons)

O problema é que os equipamentos mais modernos, como respiradores mecânicos, podem sequer ser úteis aos norte-coreanos, que carecem de mão de obra capacitada, sobretudo fora de Pyongyang. É o que alerta o Dr. Peter Collignon, médico infectologista do Hospital de Canberra e atuante em comitês de especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde).

“Se você está em terapia intensiva com um ventilador, também precisa de uma equipe treinada para cuidar dele”, disse ele ao site NK News. “A realidade é que não faz sentido comprar mais porque eles não poderão fazer muito com eles, de qualquer maneira”.

Já os ventiladores não invasivos, de mais fácil manuseio, tendem a ser insuficientes. “Se você pegar pessoas que não estão vacinadas, pelo menos um ou dois a cada cem morrem. E, para cada um que morre, há pelo menos dois em terapia intensiva”, explicou o médico, acrescentando que isso significa que os ventiladores podem estar em “dramática” escassez.

As máscaras de proteção, item mais comum no combate à Covid, aparecem em destaque no balanço alfandegário chinês, com 1,4 milhão de unidades em janeiro e 3,2 milhões em abril. No total, foram 10,68 milhões de máscaras importadas pela Coreia d Norte neste ano, a um custo total de US$ 265.851.

Já os termômetros eram habitualmente exportados por Beijing para o país vizinho, com 2.844 unidades no ano passado. Mas o volume aumentou drasticamente nos primeiras quatro meses de 2022: 99.840. Os testes de Covid-19 também aparecem na relação, com 1.140 quilos em março e mais 60 quilos em abril.

Apenas 68 mortes

Até o início desta semana, a Coreia do Norte diz ter registrado mais de 3,5 milhões de casos de “febre”, como o governo aparentemente chama a Covid-19. Apesar da explosão de casos em meio à população quase totalmente não vacinada, o país reporta apenas 68 mortes.

No dia 17 de maio, a OMS já havia se manifestado sobre o surto, dizendo ter tomado nota das “mortes e grande número de pessoas com febre”.

Na ocasião, Poonam Khetrapal Singh, diretora da OMS no Sudeste Asiático, alertou para a amplitude que o problema poderia atingir. “Como o país ainda não iniciou a vacinação contra o Covid-19, existe o risco de que o vírus se espalhe rapidamente entre as massas, a menos que seja reduzido com medidas imediatas e apropriadas”, disse ela.

O Dr. Sanjay Senanayake, professor de doenças infecciosas da Universidade Nacional Australiana, destaca um fator adicional que amplia o risco, além da falta de vacinas. “Esta pode ser uma população mais suscetível, com base na má nutrição”, disse ele. “Eles nunca tiveram Covid antes, então não têm imunidade natural e não têm muito em termos de vacinação”.

Até agora, o governo norte-coreano rejeitou as ofertas de doações estrangeiras de vacinas contra a Covid-19. Um relatório que carece de verificação independente sugere que apenas membros do exército e pessoas próximas aos líderes do regime teriam sido inoculadas com vacinas chinesas.

Segundo Collignon, a vacinação é mesmo a única solução, e os equipamentos comprados pelo governo tendem a não surtir o efeito esperado. “Basicamente, eles não têm [ventiladores] suficientes, não terão o suficiente e haverá um resultado ruim”, disse ele. “A resposta é vacinar as pessoas, em vez de comprar mais ventiladores”.

Fonte: A Referência
Comunicar erro
Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo