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A "briga" entre Bebeto e Romário que quase comprometeu a Copa de 94

Por Da Redação

22/05/2022 às 11:06:15 - Atualizado há

Bebeto desembarca em Salvador, em 10 de agosto de 1994, semanas após conquistar a Copa do Mundo nos Estados Unidos

A dupla Bebeto e Romário nunca perdeu uma partida pela Seleção, em jogos oficiais. Foram 23 confrontos com os dois em campo, com 18 vitórias e 5 empates, sendo que dos 48 gols marcados pelo escrete nesses embates, 33 foram dos craques.

Os números dizem muito, o título da Copa de 1994 mais ainda, mas aquele ‘eu te amo’ do baiano para o Baixinho, após receber dele a assistência para marcar contra os EUA, nas Oitavas, parece dizer muito mais.


Digo ‘parece’ porque, durante a primeira fase do torneio (fora o gol de escanteio contra a Rússia), Bebeto e Romário pouco se encontraram em campo, e aquele lance contra os americanos tem toda a pinta de reconciliação, igualmente decisiva no embate seguinte, contra a Holanda, nas Quartas.

Mas reconciliação de quê? A ‘resposta’ está no Correio da Bahia de 19 de maio de 1994 – início da preparação para o torneio, que começou em junho –, no qual é relatada uma suposta preferência declarada de Bebeto por Müller, como companheiro de ataque.

Na reportagem, intitulada ‘Rivalidade ameaça ataque da Seleção’, o texto cita a alegada “briga Bebeto x Romário” que agitava o ambiente.

Trecho da edição de 19 de maio de 1994 (Foto: Reprodução/CORREIO)

“A fogueira das vaidades em que se transformou a disputa por posições no ataque da Seleção está preocupando a comissão técnica. Bebeto e Romário, as principais esperanças de gol do Brasil na Copa, já não se entendem como antes. Bebeto gosta de jogar com Müller e vê com reservas a ascensão de Ronaldo [então com 17 anos]. Romário e Müller são inimigos desde que o centroavante do Barcelona pediu a convocação de seu amigo Edmundo [Baixinho e Animal eram parças] e disse que Müller nunca jogou bem na Seleção”, introduz a matéria, dando conta que o pivô da treta era mesmo o camisa 7.

A preferência de Bebeto por Müller teria sido manifestada pelo atacante do Deportivo La Coruña em entrevistas logo que desembarcou no Brasil, antes de se apresentar à Seleção. Com o burburinho já instalado, o baiano decidiu evitar a imprensa e, apenas em um rápido momento, tentou se explicar. No restante, foi escoltado por militares, para não ser importunado.

“Ontem, no Quartel da Aeronáutica, Bebeto procurou ficar longe da imprensa. ‘Vou mudar meu comportamento’, afirmou, dizendo-se irritado com o que foi publicado. ‘Eu indiquei o Müller para o Deportivo, não para ser meu parceiro na Seleção’”, cita trecho da reportagem. 

A matéria reitera, em diversos momentos, que a relação da dupla estava comprometida. “Bebeto voltou da Espanha antes do prazo previsto pelo Deportivo, mas não avisou aos dirigentes. A amizade que o unia a Romário e marcou a dupla na briga por posições com Careca e Müller na Copa de 90 está estremecida. Bebeto está mais unido a Müller”.

No final de março de 94, com Romário contundido, Bebeto e Müller foram parceiros de ataque num importante jogo preparatório para o Mundial, contra a Argentina, em Recife. Na batalha campal, que terminou 2x0, com dois de Bebeto, uma das assistências foi de Müller. 

Pênaltis
O clima tenso entre as estrelas da companhia, às vésperas do Mundial, era inclusive reconhecido pelo técnico Carlos Alberto Parreira.

“Tenho certeza de que os jogadores só vão pensar no título e esquecer possíveis divergências pessoais. (...) Na verdade, todos se respeitam e devem travar uma disputa sadia pelas posições”, disse o treinador, que também reforçou: “não vou permitir que a Seleção perca a Copa fora de campo.” 

Ainda bem, não perdemos nem fora nem dentro, mas no final das contas, essa história passa também por perdas – de pênaltis, no caso. Obviamente, o de Roberto Baggio, que garantiu o nosso tetra. Mas o curioso é que, caso o italiano convertesse, a Copa do Mundo estaria no pé direito do soteropolitano revelado pelo Vitória.

Bebeto sempre foi bom cobrador, e há uma ‘pequena chance’ de ter sido escalado para fechar a série apenas por isso. Minha outra suposição é que a aposta no ‘Allejo live action’ foi (também) uma forma de apagar a impressão de covardia que deixou ao não cobrar o pênalti que daria – se convertido – o primeiro título do Campeonato Espanhol para o Deportivo, do qual era a grande estrela. 

Para quem não sabe, ou não lembra: rodada final da La Liga, bastava o líder Deportivo vencer o Valencia para levantar a taça; final do jogo, pênalti a favor, Bebeto em campo, ao invés de pegar a bola, passou a responsabilidade para o zagueirão Djukic, que jogou nas mãos do goleirão adversário. Zero A, Barcelona campeão.

Explicar o fato de não ter batido o penal no  dia 14 de maio – portanto, poucos dias antes da apresentação pra Copa – foi outra dor de cabeça para Bebeto, numa semana de absoluto inferno astral.

“Embora Parreira considere Bebeto e Romário titulares absolutos, os jogadores sabem que não podem se descuidar. Bebeto demonstrou isso ao antecipar sua apresentação, preocupado com a repercussão de suas declarações na chegada ao Brasil e com a influência que sua decisão de não cobrar o pênalti que o Djukic perdeu na final do Espanhol pudessem ter na Seleção. (...) A principal preocupação do jogador era explicar ao técnico Parreira por que não batera o pênalti.”

Bebeto é recebido pelo governador Antonio Imbassahy, no Palácio de Ondina, em agosto de 1994. Imprensa e multidão acompanharam (Foto: Agnaldo Novais/Agecom)

O pênalti que não deveria entrar não entrou (o de Baggio, no caso), assim como Müller no lugar do Baixinho. A treta entre Bebeto e Romário, como dizia paródia da música ‘Requebra’ na época, ficou “atrás do armário”, e o baiano, quando voltou à sua terra, campeão do mundo, em agosto, foi celebrado pela garra e coragem por seu povo.

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