Polícia Almirante Tamandaré

Jovens apanham em balada de Almirante Tamandaré

Funcionários do Rancho, que seria de propriedade de vereador da cidade, foram os autores das lesões corporais

Por Luciana Pombo

16/05/2022 às 16:01:33 - Atualizado há
Fotos: Luciene Hellen

Três jovens foram agredidos em uma balada de Almirante Tamandaré, conhecida como Rancho Sertanejo, na Vila Santa Terezinha, quase em frente ao Centro de Convenções Edson Dalke. Apenas um deles, que é negro, foi violentamente chutado e levou um soco no olho.

As agressões teriam iniciado quando um dos seguranças acusou o cantor Cassius Vinícius de Souza Stocchero, conhecido como Kavinn, de 21 anos, de estar comprando entorpecente no banheiro. Depois de revistado e nada tendo sido encontrado, ele teria sido agredido e colocado para fora do bar. "Me deram tapas no rosto. Fui acusado injustamente e quero que provem o que alegaram", disse ele. Kavinn mora em Mandirituba atualmente e apenas decidiu sair com os amigos para passar um dia mais tranquilo. Não imaginava o que ocorreria.

Na sequência, o estudante N.G.S. (que pediu para não ser identificado nominalmente), de 18 anos, teria ido defender o amigo e foi segurado e chutado pelos seguranças – segundo relato registrado no Boletim de Ocorrência 2022/499275. Os dois são brancos.

Quando o terceiro jovem foi defender os outros dois, perguntando o que havia ocorrido, foi chamado de lixo. Ele refutou e disse que não era lixo. Foi quando um segurança teria vindo por trás e desferido um soco de surpresa no rosto dele. Na sequência, ele caiu ao chão e três seguranças teriam iniciado uma sequência de chutes. "Não sei por que eu apanhei como apanhei deles. Eu não tinha nada, procuraram drogas e não encontraram. Mesmo assim, fui classificado como lixo. Para mim, é perseguição política e injúria racial. Apanhei e fui chamado de lixo porque sou negro", disse Leonardo Staningher Santos, de 18 anos. Leonardo é cinegrafista freelancer da Rádio e TV Tamandaré.


O Rancho Sertanejo é conhecido por ser administrado pelo vereador Denys Moraes (PV). Procurado pela reportagem, Denys disse que lamentava o episódio, que não estava no local por ter se sentido mal no dia e que iria entregar as imagens sem edição para analisarmos. No entanto, até este momento as imagens não chegaram pelas mãos do vereador.

Na sequência, Adilson – que se identificou como proprietário da empresa de segurança Tetra Seg Vigilância e Monitoramento – foi conversar com a reportagem e com as vítimas. Ele identificou como o autor das maiores agressões um DJ de apelido Lenha – que estaria no local. Garantiu que tomaria providências e que as fitas sem edição seriam entregues para as vítimas entrarem com uma ação judicial contra os seguranças. Até este momento, as imagens não foram entregues pela empresa de segurança. A conversa foi toda gravada pela reportagem.

O boletim de ocorrência já está nas mãos da Polícia Civil e o laudo de lesões corporais foi marcado para amanhã (terça-feira). No entanto, fotos foram feitas no dia das agressões dentro da Polícia Militar (PM) e comprovam a violência dos seguranças.

Nota da Blogueira: Nada justifica a violência contra os três jovens. O que os seguranças poderiam ter feito, em caso de dúvidas sobre posse de entorpecentes, é retirar da casa de entretenimento e chamar a polícia para averiguação. No entanto, revistaram e nada encontraram. A violência é descabida em qualquer situação. Nesta é fruto de ação criminosa (lesão corporal), perseguição política e injúria racial. Não tem como não perceber que apenas o rapaz negro foi chamado de LIXO e foi brutalmente espancado pelos seguranças e pelo funcionário da Casa. A jornalista e blogueira Luciana Pombo espera que seja feita justiça e que os responsáveis sejam demitidos e indiciados pelos crimes cometidos.

Nota II: Vale lembrar que tanto Denys Moraes, como Adilson não são os proprietários legítimos das empresas citadas – apesar de responderem por elas. Nos dois casos, outros são apontados como proprietários, segundo documentação que já está em nossas mãos.

Nota III: Quero agradecer profundamente o trabalho dos oficiais militares que acompanharam o caso. Em especial o capitão Maier e o tenente Ronaldo. Nos momentos mais tensos, em que as vítimas são vistas muitas vezes como marginais, os policiais tiveram a decência de os tratar como seres humanos – que são. Muito obrigada. Pessoas como os senhores são especiais e já estão com um galardão gigantesco preparado nos céus.

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