Carta dos EUA ao Rio reacende alerta sobre soberania e militarização

A megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou na morte de mais de cem civis e de quatro policiais militares, gerou repercussões que rapidamente cruzaram as fronteiras nacionais.

Por Vermelho em 05/11/2025 às 19:03:40

A megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou na morte de mais de cem civis e de quatro policiais militares, gerou repercussões que rapidamente cruzaram as fronteiras nacionais. Dias após o ocorrido, o governo dos Estados Unidos, por meio da Administração de Repressão às Drogas (DEA), enviou uma carta oficial ao secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor dos Santos.

Assinado por James Sparks, o documento lamenta "a trágica perda dos quatro policiais que tombaram no cumprimento do dever" e coloca Washington "à disposição para qualquer apoio necessário". Em tom de solidariedade institucional, a carta exalta "o valor e a honra" dos agentes envolvidos, afirmando que "a missão de proteger a sociedade exige coragem, dedicação e sacrifício".

Conteúdo do ofício não cita normas e direitos civis

No entanto, o conteúdo da carta omite qualquer menção ao respeito às leis, aos direitos humanos ou ao devido processo legal, levantando críticas e desconfiança entre especialistas. Para Paulo César Carbonari, membro da coordenação nacional do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e professor do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), o gesto vai além de um mero protocolo diplomático e se configura como uma ação com intenções políticas.

Carbonari afirma que o envio da carta é uma medida de ingerência. Segundo ele, há um movimento de grupos da oposição no Brasil para estimular maior envolvimento do governo norte-americano na política brasileira. "Não precisamos dos EUA para promover execuções sumárias e desrespeito ao devido processo legal," afirma. Ele vê a manifestação da DEA como uma expressão do imperialismo típico dos Estados Unidos, especialmente em sua política de enfrentamento às drogas, que incide sobre as Américas.

Alinhamento com Agendas de Exceção e Soberania em Risco

A carta, divulgada pelo Portal Metrópoles, foi celebrada pelo governo Cláudio Castro (PL) como reconhecimento internacional. A gestão estadual tem buscado enquadrar facções criminosas como "organizações terroristas", em alinhamento com o modelo norte-americano.

Carbonari alerta que esse esforço favorece a agenda da oposição no Brasil e a política de intervenção dos Estados Unidos, ampliando o controle norte-americano na América Latina sob o pretexto do combate ao crime organizado.

O ofício alimenta as tensões entre os governos estadual e federal. Enquanto setores da oposição defendem a militarização, a guerra urbana, e o endurecimento das normas legais, o governo Lula propõe uma PEC de Segurança Pública que endurece o combate às facções dentro do Estado Democrático de Direito, priorizando inteligência e integração das polícias.

Para o especialista, a ação policial no Rio evidencia práticas recorrentes de desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Carbonari defende que a presença do Estado nas comunidades não pode se limitar a operações de guerra. "A ação do Estado precisa ser uma política permanente. É inaceitável que a polícia apareça na comunidade para matar. A polícia precisa estar na comunidade para fazer aquilo que é a sua tarefa fundamental: proteger a comunidade contra todos os tipos de violência," conclui.

Fonte: Vermelho

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