Assassinato em Ponta Grossa expõe falência da segurança e o medo que habita os lares paranaenses

Mulher é morta a tiros dentro de casa durante assalto em Ponta Grossa, diante da filha e da neta. Crime reacende o debate sobre a violência crescente contra mulheres e a ausência de políticas públicas eficazes no Paraná.

Por Por Luciana Pombo - Blog da Luciana Pombo | Jornalismo que não arquiva a verdade em 05/11/2025 às 15:35:29

Nem o portão fechado, nem o cadeado trancado, nem o medo constante impediram mais uma tragédia. Uma mulher de 49 anos foi assassinada dentro da própria casa, em Ponta Grossa, na noite de terça-feira (4). O crime, cometido durante um assalto, é mais um retrato de um Paraná que parece ter se acostumado a conviver com a barbárie.

De acordo com informações confirmadas pela Polícia Militar, dois homens armados chegaram em uma motocicleta, invadiram a residência no Jardim Itapoá, região do Contorno, e anunciaram o roubo. A mulher foi morta com tiros na cabeça enquanto tentava proteger a filha, de apenas 12 anos, e a neta, de cinco. Ambas presenciaram a execução.

O cenário é de desespero. Segundo os vizinhos, os criminosos obrigaram todos a ficarem de joelhos e proibiram que olhassem para os rostos deles. Depois de levarem dinheiro, celulares e uma televisão, fugiram deixando uma família destruída e uma comunidade inteira aterrorizada.

As equipes do Samu constataram o óbito no local. A Polícia Científica fez a perícia, e o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico-Legal. As buscas continuam, mas até o momento ninguém foi preso.

Mais do que um latrocínio, o caso revela uma ferida social aberta: a sensação de que a vida perdeu valor. A cada nova vítima, repete-se o roteiro de uma tragédia que o Estado insiste em tratar como rotina. O Paraná registrou, de janeiro a setembro deste ano, mais de 1.800 mortes violentas intencionais, segundo o Monitor da Violência — uma média de sete por dia. A maior parte dos crimes ocorre em áreas urbanas, dentro de casas ou nas ruas próximas, onde o policiamento é escasso e o medo é constante.

Especialistas em segurança pública afirmam que o aumento da violência patrimonial está ligado diretamente à desigualdade social e ao enfraquecimento das políticas preventivas.

"Quando o Estado se ausenta, o crime ocupa o espaço. E quem mais sofre é quem menos tem proteção", afirma o sociólogo criminalista Maurício Rodrigues, da Universidade Federal do Paraná.

O caso de Ponta Grossa também expõe um drama silencioso: o impacto da violência urbana sobre as mulheres. Em boa parte dos homicídios e latrocínios domésticos, elas são as principais vítimas, tanto pela vulnerabilidade física quanto pela carga mental de manter o lar sob ameaça constante.

"Ser mulher no Brasil é viver em estado de alerta. E a segurança pública ainda é pensada por homens e para homens", diz a defensora pública paranaense Renata Grzybowski.

Enquanto isso, as famílias tentam seguir. Na casa onde antes havia vida, ficaram apenas o som dos disparos, os brinquedos espalhados e o vazio que a violência deixa.

E no Paraná — onde autoridades ainda insistem em discursos de eficiência — as estatísticas continuam crescendo. Atrás de cada número, há uma mulher, uma mãe, uma avó, alguém que acreditava que sua casa seria o último refúgio.

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