Nem o portão fechado, nem o cadeado trancado, nem o medo constante impediram mais uma tragédia. Uma mulher de 49 anos foi assassinada dentro da própria casa, em Ponta Grossa, na noite de terça-feira (4). O crime, cometido durante um assalto, é mais um retrato de um Paraná que parece ter se acostumado a conviver com a barbárie.
De acordo com informações confirmadas pela Polícia Militar, dois homens armados chegaram em uma motocicleta, invadiram a residência no Jardim Itapoá, região do Contorno, e anunciaram o roubo. A mulher foi morta com tiros na cabeça enquanto tentava proteger a filha, de apenas 12 anos, e a neta, de cinco. Ambas presenciaram a execução.
O cenário é de desespero. Segundo os vizinhos, os criminosos obrigaram todos a ficarem de joelhos e proibiram que olhassem para os rostos deles. Depois de levarem dinheiro, celulares e uma televisão, fugiram deixando uma família destruída e uma comunidade inteira aterrorizada.
As equipes do Samu constataram o óbito no local. A Polícia Científica fez a perícia, e o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico-Legal. As buscas continuam, mas até o momento ninguém foi preso.
Mais do que um latrocínio, o caso revela uma ferida social aberta: a sensação de que a vida perdeu valor. A cada nova vítima, repete-se o roteiro de uma tragédia que o Estado insiste em tratar como rotina. O Paraná registrou, de janeiro a setembro deste ano, mais de 1.800 mortes violentas intencionais, segundo o Monitor da Violência uma média de sete por dia. A maior parte dos crimes ocorre em áreas urbanas, dentro de casas ou nas ruas próximas, onde o policiamento é escasso e o medo é constante.
Especialistas em segurança pública afirmam que o aumento da violência patrimonial está ligado diretamente à desigualdade social e ao enfraquecimento das políticas preventivas.
"Quando o Estado se ausenta, o crime ocupa o espaço. E quem mais sofre é quem menos tem proteção", afirma o sociólogo criminalista Maurício Rodrigues, da Universidade Federal do Paraná.
O caso de Ponta Grossa também expõe um drama silencioso: o impacto da violência urbana sobre as mulheres. Em boa parte dos homicídios e latrocínios domésticos, elas são as principais vítimas, tanto pela vulnerabilidade física quanto pela carga mental de manter o lar sob ameaça constante.
"Ser mulher no Brasil é viver em estado de alerta. E a segurança pública ainda é pensada por homens e para homens", diz a defensora pública paranaense Renata Grzybowski.
Enquanto isso, as famílias tentam seguir. Na casa onde antes havia vida, ficaram apenas o som dos disparos, os brinquedos espalhados e o vazio que a violência deixa.
E no Paraná onde autoridades ainda insistem em discursos de eficiência as estatísticas continuam crescendo. Atrás de cada número, há uma mulher, uma mãe, uma avó, alguém que acreditava que sua casa seria o último refúgio.