Energia mais cara, contas mais altas: por que a tarifa elétrica assusta o paranaense em 2025?

As tarifas da Copel e de outras distribuidoras voltaram a crescer e o bolso do consumidor sente o impacto. Entenda o que provocou a alta, o que diferencia 2025 de outros anos e se há solução real para o peso da conta de luz.

Por Por Luciana Pombo - Blog da Luciana Pombo | Jornalismo que não arquiva a verdade em 05/11/2025 às 12:10:14

Abrir a fatura de energia no Paraná em 2025 virou um exercício de autocontrole emocional. Embora a Copel tenha reajustado as tarifas em média 2,02%, sendo 1,25% para clientes residenciais, o valor final parece muito mais alto. A explicação está nas bandeiras tarifárias que voltaram a se repetir com frequência, no aumento do custo de geração e na falta de chuvas que obrigaram o acionamento das usinas termelétricas. O resultado é o mesmo de sempre: quem paga é o consumidor, e paga caro.

Especialistas explicam que os reajustes anuais das distribuidoras consideram custos de compra e transmissão de energia, além de encargos setoriais e tributos. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica, a ANEEL, em 2025 houve uma recomposição de perdas das empresas, e isso se refletiu diretamente nas contas.

"Não é o reajuste que pesa mais, mas o acúmulo de bandeiras e encargos que se somam mês a mês. É como se a tarifa tivesse uma escada invisível", resume um consultor do setor elétrico ouvido pelo blog.

O caso da Cocel, em Campo Largo, é ainda mais gritante. A distribuidora aplicou um reajuste médio de 22,47%, sendo mais de 21% para consumidores residenciais. Isso elevou a percepção de que as tarifas "explodiram" no Paraná. Outras empresas menores, como a Pacto Energia, também registraram aumentos acima da inflação, o que contribuiu para o sentimento generalizado de que 2025 é o ano em que a luz voltou a castigar o bolso do cidadão.

Na prática, 2025 não é o ano mais caro da história recente. Em 2020, por exemplo, a própria Copel havia reduzido a tarifa em quase 1% por causa das medidas emergenciais da pandemia. Mas o retorno das bandeiras tarifárias, suspensas por longos períodos, fez o valor subir de forma silenciosa. A bandeira vermelha de patamar 1 cobrou R$ 4,46 a mais a cada 100 kWh, e a de patamar 2, quase o dobro disso. Mesmo sem reajustes abusivos, o efeito final na conta é devastador.

"A bandeira vermelha não é multa, é um aviso de que a energia está sendo gerada em condições mais caras, geralmente com uso intensivo de termelétricas", explica um engenheiro eletricista que atua em Curitiba.

Segundo ele, a falta de reservatórios cheios, aliada a uma matriz que ainda depende da água, faz com que o país oscile entre alívio e sufoco. Quando chove pouco, a conta de luz vira castigo coletivo.

Comparando com outros governos, o Paraná teve desempenho melhor em 2025 que em 2021, quando o país enfrentou a crise hídrica e a bandeira de escassez hídrica adicionou R$ 14,20 a cada 100 kWh. Ainda assim, o custo acumulado para o consumidor segue subindo.

"Mesmo com percentuais menores, o problema é que a energia nunca volta a um patamar realmente barato. O sistema brasileiro é feito para compensar custos, não para aliviar o bolso", afirma um professor de economia energética da Universidade Federal do Paraná.

O que o cidadão pode fazer é pouco, mas existe saída. A Tarifa Social de Energia Elétrica, voltada a famílias de baixa renda, agora é concedida automaticamente para quem está no CadÚnico ou recebe o Benefício de Prestação Continuada. O desconto pode chegar a 65%, e até 80 kWh mensais são gratuitos. Outra alternativa é a Tarifa Branca, que reduz o custo fora dos horários de pico. Segundo a ANEEL, quem consegue concentrar o uso de aparelhos pesados antes das 17h ou depois das 21h tem redução considerável na fatura.

"A tarifa branca é o tipo de política que funciona, mas ainda é pouco conhecida. Falta divulgação", diz um analista da agência.

Há ainda o papel do próprio consumidor. Aparelhos antigos e em modo de espera consomem energia sem que a gente perceba. Geladeiras desreguladas, lâmpadas incandescentes e banhos longos são inimigos silenciosos da economia doméstica.

"A conta não vai baixar sozinha. É preciso reeducação energética, e isso não depende do governo, depende de cada um", pontua o especialista.

No cenário estadual, o governo do Paraná tenta mostrar eficiência na Copel, que ainda é estatal. Mas o discurso da boa gestão esbarra na realidade da tarifa que cresce mais rápido que o salário. A privatização parcial da empresa, em 2023, é vista por parte dos técnicos como fator de pressão sobre o preço.

"Empresa com acionista privado busca lucro e o lucro vem da tarifa. Essa é a equação que ninguém tem coragem de admitir", avalia um ex-dirigente da companhia.

Enquanto a política energética nacional não muda, a população continua à mercê da conta mais imprevisível da casa. E a cada bandeira que sobe, é como se o Brasil inteiro acendesse a luz da desigualdade. Energia deveria ser um direito básico, mas no país das tarifas que sempre aumentam, virou luxo de gente com fôlego financeiro.

No fim, sobra a sensação de que não se trata de entender a conta, e sim de suportá-la. O paranaense aprendeu a viver com sustos mensais, e quem sobrevive a cada ciclo tarifário carrega no bolso o reflexo de um sistema que, no papel, é técnico, mas na prática, é socialmente injusto. Como disse um especialista ouvido pela reportagem, "tarifa alta sem explicação é apagão de respeito".

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