Ato lembra os 56 anos da morte de Carlos Marighella

Militantes de direitos humanos homenagearam nesta terça-feira (4) o político, escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, em um ato na capital paulista.

Por Agência Brasil em 05/11/2025 às 04:01:15
Foto: Agência Brasil - EBC

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Militantes de direitos humanos homenagearam nesta terça-feira (4) o polĂ­tico, escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, em um ato na capital paulista. O grupo se reuniu na Alameda Casa Branca, 800, endereço onde ficava o imóvel onde ele foi executado, hĂĄ 56 anos, por agentes da ditadura, nesta data, em 1969, um ano após ser decretado o AI-5, pelo então presidente da RepĂșblica, general Artur da Costa e Silva, que suspendeu direitos civis e polĂ­ticos no paĂ­s.

Nascido em 1948, o filho Ășnico do guerrilheiro, Carlos Augusto Marighella compareceu ao ato e, em seu discurso, expressou sua admiração por uma das esposas de seu pai, a tambĂ©m militante Clara Charf, lĂ­der importante entre as mulheres.

Para ele, a convivĂȘncia com Clara, que se iniciou quando tinha por volta de 7 anos de idade, "foi um presente, em virtude das coisas incrĂ­veis que ela fazia e dizia".

"Eu nunca percebi em Clara uma Ășnica hesitação diante daquele mundo que ela queria construir, aquela polĂ­tica que achava necessĂĄria para construĂ­-lo", observou.

Clara Charf morreu na segunda-feira (3), jĂĄ centenĂĄria, de causas naturais.

"É sempre um momento importante [a manifestação], porque meu pai foi assassinado covardemente, aqui nesta rua. Mas o fato Ă© que ninguĂ©m se lembra mais dos criminosos que o mataram", declarou Carlinhos, como tambĂ©m Ă© conhecido, sobre a manifestação anual, de recordação do legado de seu pai.

"O que a gente sabe Ă© que o Marighella estĂĄ vivo, mobilizando a juventude, nos encantando a todos. Para fazer uma sociedade melhor, a gente precisa muito mais de Carlos Marighella e gente como ele para inspirar nossa juventude. Eu jĂĄ fiz muita coisa, abracei essa luta, perdi essa bandeira, fui preso, perseguido, como muitos que estão aqui. Mas agora isso estĂĄ na mão de gente como vocĂȘs, com seu celular, sua caneta, sua inteligĂȘncia, sua vontade", acrescentou.

Outro dos opositores que exerceram pressão pelo fim das arbitrariedades e violações de direitos cometidas no perĂ­odo da ditadura, Maurice Politi, do NĂșcleo de Preservação da Memória PolĂ­tica, ou NĂșcleo Memória, afirmou que Carlos Marighella foi "um dos maiores guerreiros do povo brasileiro".

"Lutou pela libertação deste paĂ­s, por um paĂ­s melhor, sem desigualdade, um paĂ­s socialista. Marighella caiu neste lugar, foi assassinado barbaramente", pontuou o ex-preso polĂ­tico e cofundador e primeiro diretor da entidade.

Carlos Marighella

Registros do Memorial da ResistĂȘncia, entidade da capital que preserva a memória de pessoas que contestaram as forças repressivas do perĂ­odo, lembram que Marighella chegou a ser considerado o inimigo nĂșmero um da ditadura.

Em 1946, o baiano havia conquistado o cargo de deputado federal, com um dos mais expressivos eleitorados, mas teve seu mandato cassado por decisão do então presidente Eurico Gaspar Dutra. A ordem se estendia a todos os filiados a partidos de vertente comunista, como era o caso de Marighella, do Partido Comunista Brasleiro (PCB).

Em 1952, passou a integrar a Comissão Executiva do ComitĂȘ Central do PCB e, no ano seguinte, foi enviado à China.

A primeira vez que torturaram Marighella, que resistiu a duas fases de autoritarismo, a de GetĂșlio Vargas e a da ditadura instaurada com o golpe que depôs o presidente João Goulart, foi em 1936, quando tinha 24 anos de idade e teve seus pĂ©s queimados por maçarico. Permaneceu um ano preso, atĂ© que recebeu anistia.

Sua primeira detenção ocorreu 4 anos antes, ocasião em que incomodou os poderosos por criticar Juracy Magalhães, interventor de GetĂșlio e o primeiro presidente da Petrobras.

Viveu na clandestinidade, sendo localizado por policiais, em 1964, em um cinema no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os agentes atiraram contra ele, à queima-roupa.

Em julho de 1968, anunciou a Ação Libertadora Nacional (ALN), de resistĂȘncia armada contra a ditadura. Em 1969, Marighella foi assassinado por policiais do DOPS/SP, que armaram uma emboscada, após descobrirem sua ligação com a ordem religiosa dos dominicanos. Ele morreu indefeso, com pelo menos quatro balas.

Censura

O governo de Jair Bolsonaro, alinhado à extrema-direita, impôs censura ao filme Marighella, dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge. O longa-metragem entrou no circuito brasileiro somente na data de aniversĂĄrio do revolucionĂĄrio, em 2021, bem depois de jĂĄ ter sido exibido em festivais importantes, como o de Berlim. Naquele ano, a equipe de produção afirmou à imprensa que a diretoria da AgĂȘncia Nacional de Cinema (Ancine), que havia sido nomeada por Bolsonaro e substituĂ­do a anterior, de fato foi responsĂĄvel por atrasar a exibição da obra nas salas de cinema brasileiras.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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