Foto: Agência Brasil - EBC
Nascido em 1948, o filho Ășnico do guerrilheiro, Carlos Augusto Marighella compareceu ao ato e, em seu discurso, expressou sua admiração por uma das esposas de seu pai, a tambĂ©m militante Clara Charf, lĂder importante entre as mulheres.
Para ele, a convivĂȘncia com Clara, que se iniciou quando tinha por volta de 7 anos de idade, "foi um presente, em virtude das coisas incrĂveis que ela fazia e dizia".
"Eu nunca percebi em Clara uma Ășnica hesitação diante daquele mundo que ela queria construir, aquela polĂtica que achava necessĂĄria para construĂ-lo", observou.
Clara Charf morreu na segunda-feira (3), jĂĄ centenĂĄria, de causas naturais.
"Ă sempre um momento importante [a manifestação], porque meu pai foi assassinado covardemente, aqui nesta rua. Mas o fato Ă© que ninguĂ©m se lembra mais dos criminosos que o mataram", declarou Carlinhos, como tambĂ©m Ă© conhecido, sobre a manifestação anual, de recordação do legado de seu pai.
"O que a gente sabe Ă© que o Marighella estĂĄ vivo, mobilizando a juventude, nos encantando a todos. Para fazer uma sociedade melhor, a gente precisa muito mais de Carlos Marighella e gente como ele para inspirar nossa juventude. Eu jĂĄ fiz muita coisa, abracei essa luta, perdi essa bandeira, fui preso, perseguido, como muitos que estão aqui. Mas agora isso estĂĄ na mão de gente como vocĂȘs, com seu celular, sua caneta, sua inteligĂȘncia, sua vontade", acrescentou.
Outro dos opositores que exerceram pressão pelo fim das arbitrariedades e violações de direitos cometidas no perĂodo da ditadura, Maurice Politi, do NĂșcleo de Preservação da Memória PolĂtica, ou NĂșcleo Memória, afirmou que Carlos Marighella foi "um dos maiores guerreiros do povo brasileiro".
"Lutou pela libertação deste paĂs, por um paĂs melhor, sem desigualdade, um paĂs socialista. Marighella caiu neste lugar, foi assassinado barbaramente", pontuou o ex-preso polĂtico e cofundador e primeiro diretor da entidade.
Registros do Memorial da ResistĂȘncia, entidade da capital que preserva a memória de pessoas que contestaram as forças repressivas do perĂodo, lembram que Marighella chegou a ser considerado o inimigo nĂșmero um da ditadura.
Em 1946, o baiano havia conquistado o cargo de deputado federal, com um dos mais expressivos eleitorados, mas teve seu mandato cassado por decisão do então presidente Eurico Gaspar Dutra. A ordem se estendia a todos os filiados a partidos de vertente comunista, como era o caso de Marighella, do Partido Comunista Brasleiro (PCB).
Em 1952, passou a integrar a Comissão Executiva do ComitĂȘ Central do PCB e, no ano seguinte, foi enviado à China.
A primeira vez que torturaram Marighella, que resistiu a duas fases de autoritarismo, a de GetĂșlio Vargas e a da ditadura instaurada com o golpe que depôs o presidente João Goulart, foi em 1936, quando tinha 24 anos de idade e teve seus pĂ©s queimados por maçarico. Permaneceu um ano preso, atĂ© que recebeu anistia.
Sua primeira detenção ocorreu 4 anos antes, ocasião em que incomodou os poderosos por criticar Juracy Magalhães, interventor de GetĂșlio e o primeiro presidente da Petrobras.
Viveu na clandestinidade, sendo localizado por policiais, em 1964, em um cinema no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os agentes atiraram contra ele, à queima-roupa.
Em julho de 1968, anunciou a Ação Libertadora Nacional (ALN), de resistĂȘncia armada contra a ditadura. Em 1969, Marighella foi assassinado por policiais do DOPS/SP, que armaram uma emboscada, após descobrirem sua ligação com a ordem religiosa dos dominicanos. Ele morreu indefeso, com pelo menos quatro balas.
O governo de Jair Bolsonaro, alinhado à extrema-direita, impôs censura ao filme Marighella, dirigido por Wagner Moura e estrelado por Seu Jorge. O longa-metragem entrou no circuito brasileiro somente na data de aniversĂĄrio do revolucionĂĄrio, em 2021, bem depois de jĂĄ ter sido exibido em festivais importantes, como o de Berlim. Naquele ano, a equipe de produção afirmou à imprensa que a diretoria da AgĂȘncia Nacional de Cinema (Ancine), que havia sido nomeada por Bolsonaro e substituĂdo a anterior, de fato foi responsĂĄvel por atrasar a exibição da obra nas salas de cinema brasileiras.
Fonte: AgĂȘncia Brasil