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paulo leandro

Lutar, lutar, lutar, este é o nosso ideal


Hoje é a última chance do ano para apreciar o time do Atlético Mineiro, diante do xará paranaense, lá em Curitiba, com transmissão direta pela TV Bahia, depois da novela, tendo o Galo construído uma vantagem em Belo Horizonte, com os 4x0 de domingo.

A largura da contagem não seria demais se o Atlético Mineiro não tivesse também demonstrado imensa superioridade na arrumação tática de suas linhas, na troca de passes rente ao chão em sentido vertical, nas virtudes individuais de seus campeões.

Além do ótimo goleiro Éverson, chama a atenção a fluidez dos movimentos de Guilherme Arana, pronto a apoiar pela esquerda, buscar o companheiro melhor colocado do meio pra frente, servir com perfeição quem se desloca ou tentar o arremate bem no alvo.

É o Atlético de Nacho, de Keno, de Hulk, um time capaz de recuperar o prazer da contemplação de beleza não-intencional de uma partida, reativando na memória de quantos tenham vivido bem os anos 1970, outras figuras lendárias na mitografia alvinegra.

‘Não-esquecer’ estaria colado à verdade (Alétheia), daí convocar o artilheiro Dario, o meia Oldair, os pontas Vaguinho e Romeu, sem deixar de construir um altar ao arqueiro uruguaio Marzukiewicz, e depois Renato, tem também o zagueiro Vantuir, o lateral Humberto...

Correspondendo à ideia ou forma de bola, temos o timaço do zagueiro Luisinho, do meia Cerezo, dos pontas Paulo Isidoro e Éder, do meia Ângelo; no gol, João Leite, barreira divinal; e no comando, na condição de escultor-chefe deste ateliê, o artista Reinaldo, além de Rei, um guerreiro, dizendo-se “mais um torcedor”, ao entrar em campo a aplaudir a massa atleticana em delírio.

Comemorava Reinaldo, suas belas pinturas, com o punho esquerdo para cima, e o braço direito voltado para trás, à maneira dos panteras negras, grupo antirracista dos Estados Unidos, organizado em sintonia com Malcolm X, líder covardemente assassinado em uma daquelas tramas estranhas, nas quais tanta Swat e polícia especializada nunca desvelam.

Poderia Reinaldo, como tantos outros craques, curvar-se ao regime do momento, tornar-se servo ideologicamente, no entanto, optou o artilheiro por denunciar, a cada golaço, a necessidade de o Brasil começar a pagar sua conta pelos 350 anos de escravizados mais este nosso período pós-abolição, quando o genocídio do povo negro segue sem piedade.

Na Copa de 1978, o Rei fora ameaçado de barração, caso reincidisse mencionar em seu gesto a luta contra a desigualdade racial, mas o caráter falou mais forte e, logo ao marcar o gol de empate contra a Suécia, lá se foi o goleador artista levantar o punho tão alto quanto pôde.

Resultado: o capitão Claudio Coutinho o sacou do time, após o empate com a Espanha, quando a competição começava a afunilar e tudo coincidiu para classificar a Argentina, em período sombrio da Operação Condor, enquanto a sociedade civil começava a mobilizar o Brasil rumo à redemocratização: “lutar, lutar, lutar, este é o nosso ideal!”

Ao curtir o novo Galo, é possível entrar no Túnel do Tempo e rever no campo do sempre, Reinaldo e outros ídolos, bem como a figura iluminada de Telê Santana, hoje seguido por Cuca, na arte de conquistar as vitórias, sem desprezar a devoção à deusa bola. Fogo nos racistas, meu Rei!


Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.

Correio 24 Horas

Paulo Leandro

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