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Surto de sarna pode ser reflexo do uso indiscriminado da ivermectina

Por Da Redação

28/11/2021 às 23:15:46 - Atualizado há

Desde o início da pandemia da Covid-19, médicos e cientista do mundo todo alertavam que alguns medicamentos não teriam eficácia contra a doença. Agora, um trabalho publicado pelo Núcleo de Estudos em Farmacoterapia (NEF) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) pode servir de base para ajudar na investigação de um surto de escabiose, a sarna humana. A hipótese levantada é que os casos estejam associados ao uso indiscriminado de ivermectina, medicamento que se popularizou no Brasil com o chamado “kit covid”.

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O artigo publicado em agosto deste ano foi elaborado pelos pesquisadores do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Alfredo Oliveira-Filho e Sabrina Neves, e pelos estudantes Lucas Bezerra e Natália Alves, a partir da observação de casos de resistência à ivermectina já relatados, surtos isolados e os dados de aumento de consumo do medicamento devido à pandemia de Covid-19.

“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois, está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, contextualiza Sabrina em comunicado divulgado no site da universidade.

“Ainda não há diagnóstico da doença que está causando o surto. Algumas hipóteses da etiologia [origem] estão sendo testadas, entre elas está a levantada pelo artigo”, ressalta.

A pesquisadora explica que ainda são necessários alguns testes e o descarte de outras hipóteses para então confirmar a hipótese apresentada no artigo.

O trabalho, assinado por Alfredo Oliveira-Filho, Lucas Bezerra, Natália Alves e Sabrina Neves, aponta que, após o início da pandemia causada pelo SARS-CoV-2, “a ivermectina foi identificada como um fármaco com potencial antiviral para tratamento de pacientes – a princípio hospitalizados e depois ambulatoriais – com Covid-19”.

Por causa disso, o consumo desse antiparasitário aumentou quase dez vezes no Brasil. Mesmo com pareceres do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica, somados a evidências científicas, a prescrição e automedicação baseada neste medicamento continuaram a acontecer.

“O uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública, porém, no caso de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos, esse problema ganha proporções maiores. Quando utilizamos de forma irracional, ou incorreta, medicamentos, como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, reforça a professora Sabrina.

E, assim como antecipou o risco de aumento da resistência do Sarcoptes scabiei à ivermectina, ela deixa mais uma reflexão: “Esse é um problema mundial, principalmente no que diz respeito à resistência bacteriana, que é um problema sério, uma vez que já temos várias cepas de bactérias resistentes a antibióticos no mundo todo. Ou seja, nesse caso, o uso irracional do medicamento leva a um problema geral, pois gera cepas resistentes a tratamento, que podem infectar qualquer pessoa”.

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Jornalista Luciana Pombo

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