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Professora do Thales de Azevedo depõe em outra delegacia para evitar tumulto

Por Da Redação

25/11/2021 às 05:48:59 - Atualizado há

O depoimento da professora de filosofia do Colégio Estadual Thales de Azevedo (Ceta), Giltânia Aquino, denunciada por uma aluna e a mãe dela por suposto ‘discurso esquerdista’, que estava marcado para acontecer nessa quarta-feira (24) na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca), em Matatu, ocorreu em outra delegacia no bairro da Piedade. A reportagem tentou confirmar a informação com a Polícia Civil, mas a corporação informou que não poderia divulgar detalhes. 

Na tarde dessa quarta, lideranças do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), alunos do colégio e professores da rede estadual e municipal estiveram presentes em frente à Dercca para realizar um protesto pacífico em apoio à professora. “A professora foi impedida de exercer o seu direito de liberdade de expressão, que é garantido na Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Constituição Federal de 1988. O que aconteceu no Thales não pode acontecer em escola nenhuma”, declarou Rui Oliveira, presidente da APLB. 

A estudante do Ceta Jéssica Andrade afirmou, emocionada, que Giltânia Aquino sempre foi fonte de inspiração no colégio, ajudando e passando diversos ensinamentos essenciais aos alunos. “Queremos uma escola onde os professores também tenham liberdade de expressão, estamos aqui para lutar. Estão tentando censurar nossa educação, que já vem sendo prejudicada nos últimos anos", disse a aluna.

A professora, segundo alunos, não estava falando de racismo, política ou feminismo no momento em que foi apontada por ter adotado um suposto discurso de doutrinação, mas sim falando sobre um momento da história. A educadora falava do Iluminismo com seus alunos, um movimento intelectual que se tornou popular no século XVIII e trouxe ideias voltadas à razão para deslegitimar o modelo de estado predominante na época. Seu ideal era defender a liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e afastamento entre igreja e estado.

Protesto ocorreu nessa quarta em frente à Dercca, em Matatu (Foto: Divulgação APLB)

Pérdia Azevedo, diretora de formação da APLB e professora da rede municipal, afirmou que o Brasil enfrenta um retrocesso da educação devido ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). “A concepção da educação é baseada em nosso Brasil no que diz Paulo Freire ‘É preciso transformar o ser humano a partir do aprendizado, do saber’ e essa abordagem freiriana foi atacada por esse governo federal atual. Eu nunca vi isso na Bahia, a terra de Castro Alves, a terra de tantos filósofos, tantos iluminados no saber e, de repente, a gente deu esse retrocesso tão grande a ponto de levar para delegacia o assunto de uma aula que foi ministrada pela professora e ela tinha o direito de falar sobre iluminismo, que foi um período da história”, afirmou a educadora. 

Os manifestantes também apoiaram uma professora do Vitória Régia, um colégio particular que afastou a educadora das aulas depois que famílias reclamaram da abordagem sobre o livro ‘Olhos D’água’, da escritora Conceição Evaristo. A obra possui 15 contos que evidenciam a violência urbana que atinge mulheres negras. Nas histórias, a autora expõe o cotidiano de mulheres que sofrem com a miséria e a exclusão social.

Relembre o caso
A professora de Filosofia do Colégio Estadual Thales de Azevedo foi intimada pela polícia para prestar esclarecimentos sobre sua postura em sala de aula, sob a alegação de ensinar "conteúdos esquerdistas". A intimação foi motivada por um boletim de ocorrência registrado por uma aluna e sua mãe na Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca).

De acordo com o Sindicatos dos Professores (APLB), o motivo do boletim de ocorrência seria pela professora discutir temas como questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade em sala de aula. Ainda de acordo com o sindicato, dois episódios marcam a perseguição aos professores da unidade escolar.

"No mês de agosto foi realizado um seminário online pela escola e após o evento um grupo de estudantes e seus responsáveis expediram uma nota atacando os professores e palestrantes. Em outra ocasião, durante uma aula remota da disciplina de Inglês, a mãe de uma estudante, a mesma que deu entrada na queixa contra a professora de Filosofia, invadiu o espaço da aula online para inquirir e exigir explicações sobre a temática, que segundo ela seria inadequada por se tratar de feminismo", diz a nota divulgada pelo sindicato.

De acordo com a APLB, após receber a intimação no último dia 16, a professora ficou muito abalada emocionalmente e teve que receber atendimento médico. 

A escola também repudiou a situação e afirmou que a intimação policial fere "a liberdade de cátedra e autonomia pedagógica, princípios constitucionais fundamentais". A escola diz ainda que a intimação também "viola o direito profissional e o respeito ao trabalho docente em disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394) e do Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005)". A unidade escolar também pede apoio de entidades e movimentos sociais para garantir a autonomia pedagógica. 

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