Uma discussão entre trĂȘs homens, correria, pedidos de socorro de porta em porta, dois disparos na cabeça e uma morte na rua. O bairro Santa Cândida, na região Norte de Curitiba, viveu uma cena de terror na noite de sĂĄbado. A vĂtima, ainda sem identidade divulgada, foi agredida ao longo da via e executada a poucos metros de casas onde famĂlias jantavam em silĂȘncio tenso. Equipes da PolĂcia Militar e do Corpo de Bombeiros tentaram reanimar o homem, sem sucesso. A PolĂcia Civil abriu investigação para identificar os autores e esclarecer as circunstâncias do crime.
Casos assim, com espancamento seguido de tiros no crânio, são tĂpicos de trĂȘs dinâmicas que a criminologia brasileira descreve com frequĂȘncia
Acerto de contas no circuito das economias ilegais, principalmente drogas e receptação.
Justiça privada por grupos locais que impõem regras à força, da vizinhança violenta ao crime organizado.
Vinganças pessoais que escalam rĂĄpido onde a presença do Estado Ă© frĂĄgil ou tardia.
Pesquisas recentes sobre violĂȘncia letal no Brasil mostram que homicĂdios se concentram em zonas e janelas de tempo especĂficas, muitas vezes ligadas a disputas criminais. Em palavras diretas, não Ă© violĂȘncia difusa, Ă© violĂȘncia localizada e repetitiva, que pede atuação policial cirĂșrgica e rĂĄpida.
Os indicadores estaduais melhoraram no agregado, mas isso não blindou bairros da capital contra episódios extremos. Em 2024, o ParanĂĄ reduziu homicĂdios e fechou o ano com taxa de 14,1 por 100 mil habitantes, abaixo da mĂ©dia nacional. Em 2025, o primeiro semestre manteve queda expressiva e a Grande Curitiba registrou redução nos homicĂdios dolosos entre janeiro e julho. O paradoxo fica evidente: menos casos totais, mas a brutalidade de alguns episódios continua alta. Ă a ferida que persiste no cotidiano.
O Brasil ainda esclarece pouco mais de um terço dos homicĂdios. O Instituto Sou da Paz estima 39 por cento de elucidação em mĂ©dia nacional. A própria campanha Onde Mora a Impunidade resume com precisão: a impunidade mora na baixa capacidade de investigação dos estados e na dificuldade de produzir dados. Traduzindo para a rua de sĂĄbado, no Santa Cândida: sem perĂcia rĂĄpida, cruzamento de câmeras do entorno, coleta de depoimentos em horas e proteção de testemunhas, a chance de o caso virar estatĂstica aumenta.
HomicĂdios que ficam sem autoria conhecida viram propaganda do crime. O recado Ă© simples para quem pretende eliminar desafetos ou cobrar dĂvidas ilĂcitas: dĂĄ para fazer, dĂĄ para escapar. AlĂ©m disso, a violĂȘncia Ă© seletiva. Estudos nacionais mostram que as vĂtimas se concentram em territórios empobrecidos e com serviços pĂșblicos insuficientes. Bairros populosos da periferia de Curitiba e da Região Metropolitana vivem essa realidade todos os dias.
Plano bĂĄsico de investigação eficiente
 Mapeamento imediato do trajeto da vĂtima antes da agressão, com busca de imagens privadas e pĂșblicas.
 Coleta rĂĄpida de depoimentos de moradores que ouviram a briga e viram as agressões ao longo da via.
 Rastreamento de celulares que trafegaram no perĂmetro no horĂĄrio do crime, com ordem judicial.
 Proteção de testemunhas para evitar silenciamento por medo.
 AnĂĄlise balĂstica e comparação com armas apreendidas em ocorrĂȘncias recentes na região.
 Integração com inteligĂȘncia para checar vĂnculos dos suspeitos com economias ilegais locais.
Mesmo com queda geral dos homicĂdios, a Grande Curitiba vive picos localizados. A explicação, dizem os pesquisadores, estĂĄ em disputas entre grupos criminais e em conflitos pontuais que geram retaliações aceleradas. Ă uma dinâmica que combina acĂșmulo de tensões e respostas violentas rĂĄpidas. Sem presença constante do Estado e investigação qualificada pós-crime, o ciclo se retroalimenta.
 Instituto Sou da Paz: "A impunidade mora na baixa capacidade de investigação dos estados e na dificuldade de produzir dados que permitam calcular o Ăndice de esclarecimento"
 Fórum Brasileiro de Segurança PĂșblica: o ParanĂĄ figura entre os estados com queda recente de homicĂdios, o que mostra que polĂticas consistentes funcionam, desde que combinadas com investigação robusta e prevenção focalizada.
Falar em queda de homicĂdios Ă© importante, mas não consola a vizinhança que assistiu a uma execução na calçada. Para essa comunidade, a mĂ©trica que importa Ă© outra: o caso foi esclarecido. Enquanto a taxa de elucidação não se tornar compromisso pĂșblico e auditĂĄvel bairro a bairro, a rotina serĂĄ a do medo e das ruas vazias depois que o sol se põe.
Quem tiver informações sobre o crime no Santa Cândida pode repassar de forma anônima:
 Disque DenĂșncia 181
 197 PolĂcia Civil
 190 PolĂcia Militar em emergĂȘncia
Ajude o jornalismo independente. Doe qualquer valor e envie sua mensagem para o: https://widget.livepix.gg/embed/ffba872b-6a00-465a-bdf0-6cb70bf5753c
Fonte: Fontes Consultadas: Secretaria da Segurança PĂșblica do ParanĂĄ, balanços de 2024 e 2025 sobre homicĂd