Bebida ou veneno? Paraná confirma primeiros casos de intoxicação por metanol e acende alerta de tragédia anunciada

Dois homens estão internados em estado grave em Curitiba após consumir bebida adulterada; casos reabrem o debate sobre falsificação e negligência na fiscalização de bebidas no Brasil

Por Luciana Pombo, com informações da RIC em 05/10/2025 às 14:26:12
Divulgação

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Os primeiros casos confirmados de intoxicação por metanol no Paraná foram registrados neste domingo (5), em Curitiba, segundo as secretarias estadual e municipal de saúde. As vítimas, dois homens de 60 e 71 anos, estão internadas em estado grave após consumirem bebidas alcoólicas destiladas adulteradas.

Um deles precisou receber etanol farmacêutico — o antídoto recomendado pelo Ministério da Saúde — encaminhado às pressas à capital. A Polícia Científica do Paraná confirmou a presença da substância nos exames. Já a Polícia Civil investiga a possibilidade de que o próprio paciente tenha misturado álcool combustível (etanol automotivo) à bebida, o que teria gerado o envenenamento.

Metanol: o veneno invisível

O metanol é um álcool industrial usado em solventes e combustíveis. Quando ingerido, mesmo em pequenas quantidades, se transforma em ácido fórmico e formaldeído no organismo, provocando cegueira, falência renal, parada respiratória e morte. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de apenas 30 mililitros — duas colheres de sopa — pode ser letal.

"O corpo não consegue processar o metanol da mesma forma que o etanol. O resultado é devastador: danos neurológicos irreversíveis, cegueira e insuficiência múltipla de órgãos", explica a toxicologista Dra. Lúcia Romero, referência em envenenamentos químicos.

Histórico de tragédias com metanol

Casos de intoxicação por metanol não são novidade no Brasil nem no mundo — apenas mais uma página do manual da negligência.
Em 2021, em Minas Gerais, nove pessoas morreram após consumir cachaça falsificada em um bar de Passos. Em 2019, no México, 42 pessoas perderam a vida após beber tequila adulterada. E na Índia, tragédias semelhantes matam centenas de pessoas por ano, em uma combinação fatal de pobreza, desespero e descontrole sanitário.

"O que acontece é um padrão: falsificadores usam metanol para baratear custos e aumentar o teor alcoólico. Mas estão vendendo morte engarrafada", diz Dr. Paulo Menezes, professor de medicina legal da USP.

Um país que bebe veneno com gelo

O Brasil, que já sofre com a desigualdade e a fome, agora vê o pobre sendo envenenado para tentar esquecer a miséria. E, ironicamente, o álcool falsificado é mais acessível do que o pão.
Segundo o IBGE, mais de 33 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar — e muitos recorrem a bebidas baratas, compradas de vendedores clandestinos, sem saber que estão ingerindo solvente de posto de gasolina.

Em Curitiba, os casos expõem o abandono da vigilância sanitária e o caos da fiscalização. Enquanto a Anvisa promete investigações, as vítimas seguem entre a vida e a morte — e o comércio clandestino segue impune.


Como identificar e evitar o veneno

A Polícia Científica do Paraná orienta que consumidores desconfiem de bebidas com rótulo mal impresso, lacre frouxo, preço muito abaixo do mercado e cheiro azedo.
O metanol não tem gosto nem cheiro característico, o que torna o risco ainda maior.
Em caso de suspeita, a orientação é buscar atendimento médico imediato — quanto mais cedo o etanol farmacêutico for administrado, maiores as chances de sobrevivência.

Sarcasmo da realidade

Enquanto as vítimas lutam para respirar, os falsificadores continuam livres — e o Brasil, mais uma vez, serve veneno em copo de vidro.
É a velha fórmula nacional: o Estado fecha os olhos, o povo paga a conta e o crime brinda a impunidade.

Fonte: Mais Informações.

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