O Brasil que trabalha: empreendedores sustentam o país enquanto governos empacam

No Dia do Empreendedor, dados do Sebrae e histórias locais mostram que, se o Brasil ainda está de pé, é graças a quem não desistiu — mesmo sem incentivo, crédito ou estrutura

Por Luciana Pombo, com informações da Jovem Pan em 05/10/2025 às 13:26:28

Se não fossem os pequenos empreendedores, o Brasil estaria em colapso. A constatação vem do próprio Sebrae: sem eles, a taxa de desemprego seria cinco vezes maior. Isso mesmo. O que o Estado não faz, o povo faz — e com uma força que desafia qualquer crise. Em 2024, 94% da população economicamente ativa estava ocupada, o maior índice desde 2019. E um em cada quatro brasileiros é empreendedor.

São milhões de brasileiros que, diante do abandono estatal, viraram o próprio patrão. Enquanto políticos multiplicam assessores e diárias, os microempreendedores suam para gerar empregos e dignidade. E o Paraná é um retrato perfeito dessa disparidade.

Paraná: empreendedorismo por necessidade, não por apoio

Segundo o Observatório Sebrae, o estado soma 1,3 milhão de microempreendedores individuais (MEIs), um crescimento de 22% em quatro anos. Mas esse avanço vem, em grande parte, da ausência de oportunidades formais.

Os dados da PNAD Contínua (IBGE) revelam que o rendimento médio do trabalhador paranaense caiu 6,2% desde 2020, empurrando milhares à informalidade. Curitiba e Região Metropolitana, que concentram grande parte do PIB estadual, também concentram as contradições.

Enquanto na capital surgem novos polos de inovação, como o Vale do Pinhão, cidades vizinhas como Almirante Tamandaré, Campo Magro e Piraquara ainda sofrem com baixo índice de desenvolvimento humano, falta de crédito e políticas públicas praticamente inexistentes para quem quer empreender.


O contraste: onde falta tudo, sobra coragem

Em Almirante Tamandaré, a terceira cidade mais populosa da Região Metropolitana, o empreendedorismo é um ato de sobrevivência. Sem feiras públicas estruturadas, com transporte precário e programas de incentivo inexistentes, os moradores se viram como podem.

A taxa de desemprego local ultrapassa 12%, segundo dados cruzados do IBGE e da Secretaria de Trabalho do Paraná. Mas, entre becos e avenidas cheias de buracos, brotam histórias de reinvenção — como a do Mordida Certa, uma lanchonete que começou em um quintal no bairro Campo do Santana, em Curitiba, e se mudou para Tamandaré para fugir dos altos custos da capital e buscar um novo público.

O resultado? Um sucesso que ninguém esperava.

Mordida Certa: o sabor da resistência

A criadora do Mordida Certa, mulher, periférica e teimosa o suficiente para acreditar no impossível, apostou em uma cidade esquecida pelos políticos — e venceu. Sem linhas de crédito, sem isenção fiscal, sem propaganda paga. Apenas com criatividade, estratégia e um atendimento humano, transformou um pequeno sonho em uma marca reconhecida.

"Se o poder público não investe em Tamandaré, nós investimos. E, olha, o povo merece cada lanche servido com dignidade", conta a empreendedora, que hoje gera empregos diretos e indiretos na região.

O contraste é gritante: enquanto empresas públicas desaparecem em licitações suspeitas, como vimos em tantos escândalos locais, pequenos negócios sustentam famílias inteiras com o próprio suor. O verdadeiro Plano Real é o da persistência.

Empreender no Brasil é ato político

O presidente do Sebrae, Décio Lima, sintetiza o que os números e histórias mostram:

"O empreendedorismo deixou de ser apenas uma escolha individual e passou a ser parte estratégica da política de desenvolvimento do país."

Mas, em cidades como Tamandaré, o que se vê é um empreendedorismo de resistência, não de política. Os mesmos que constroem o futuro são os que mais sofrem com a falta de infraestrutura, de crédito e de segurança.

É como se o Brasil fosse um enorme campo minado burocrático — e o pequeno empreendedor, o desarmador solitário.

O país que sobrevive apesar do Estado

Se fosse uma série, o empreendedor brasileiro seria o protagonista de "Breaking Bad" tropical: sem apoio, sem investimento, e ainda criminalizado por tentar sobreviver fora do sistema.

Mas a diferença é que, aqui, o crime não é vender drogas — é vender sonhos. Sonhos de independência, de liberdade, de vida digna.

Washington Vasconcellos, o fundador da 2Y Group, que saiu do despejo à fortuna, é o retrato desse Brasil real. E em cada esquina de Tamandaré, há um Washington, uma empreendedora, um feirante, um sonhador que desafia as estatísticas.

Enquanto o governo promete, o povo faz. E talvez seja esse o maior legado do Dia do Empreendedor: o Brasil ainda anda — não por causa dos políticos, mas apesar deles.


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Fonte: Jovem Pan

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