PolĂ­tica

PT divulga que Lula foi inocentado em ações não julgadas

Por Banda B

21/09/2021 às 17:59:50 - Atualizado hĂĄ

As recentes vitórias do ex-presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva Lula na Justiça levaram o PT a usar politicamente as decisões e a divulgar que o petista foi "inocentado" em ações que não tiveram o mérito julgado. Segundo juristas ouvidos pelo Estadão, embora Lula possa ter se livrado da maioria dos processos, as decisões não atestam, necessariamente, que ele foi absolvido.

Nos Ășltimos anos, após derrotas jurĂ­dicas que lhe custaram 580 dias de prisão, Lula respondeu a 20 ações. Em apenas trĂȘs situações houve, de fato, a absolvição. Outros 16 casos foram interrompidos por questões processuais ou reviravoltas que levaram ao arquivamento das ações. O ex-presidente ainda responde a uma ação criminal que apura trĂĄfico de influĂȘncia na compra de caças suecos, alvo da Operação Zelotes. Neste Ășltimo, não houve julgamento.

Em um caso recente que marcou as Ășltimas derrotas da Operação Lava Jato, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou a suspensão de duas investigações contra Lula. O magistrado afirmou que os processos usavam como prova delações premiadas que jĂĄ haviam sido invalidadas.

Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução/Instagram


Com base neste e em outros casos semelhantes, o PT lançou uma peça publicitĂĄria intitulada "Memorial da Verdade", na qual cita 19 ações em que Lula teria sido inocentado. O texto lista processos em que o ex-presidente foi "inocentado" e trĂȘs em que foi "absolvido". A diferença entre os termos utilizados, segundo o professor de Direito Penal da FGV-Direito Rio Felipe Lima Almeida, se deve ao fato de as decisões da Justiça não tratarem, objetivamente, de inocentar réus e acusados.

"A expressão "inocente" não é técnico-jurĂ­dica. Inocentes todos nós somos até que se tenha uma sentença condenatória transitada em julgado, e realmente isso não existe em relação ao ex-presidente Lula", afirmou o professor. "Agora, trancamento de ação penal, arquivamento de inquérito ou rejeição de denĂșncia, nessas situações nós não temos o enfrentamento do mérito, então não hĂĄ sentença do Estado dizendo que não houve crime."

Ou seja, diferentemente da inocĂȘncia, a absolvição é um elemento jurĂ­dico registrado no Código de Processo Penal. Esse tipo de decisão reconhece que as acusações apresentadas contra uma das partes em determinado processo são improcedentes. A partir daĂ­, o caso é encerrado e o réu deixa a posição de suspeito.

"Discursos"

"Não podemos confundir um discurso polĂ­tico com um discurso jurĂ­dico. Aqui hĂĄ um tom retórico, de persuasão. HĂĄ uma disputa polĂ­tica e de narrativa. Parece uma estratégia polĂ­tica, mas, do ponto de vista jurĂ­dico, todos são considerados inocentes até uma sentença penal condenatória", afirmou a professora de Direito Penal da FGV-Direito de São Paulo Raquel Scalcon.

Os 19 casos em que a defesa do ex-presidente alega inocĂȘncia nas redes sociais são dois trancamentos de investigações, quatro denĂșncias rejeitadas, quatro decisões anuladas – a partir do reconhecimento de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro -, dois arquivamentos, uma prescrição (impossibilidade de punir por causa da idade) e um reconhecimento de legalidade nas palestras realizadas por Lula. A maioria foi por ausĂȘncia de provas.

Quando uma denĂșncia é rejeitada, o juiz responsĂĄvel pelo caso indica que a acusação não conseguiu reunir elementos mĂ­nimos para oferecer uma denĂșncia contra o réu e encerra o caso ainda na fase preliminar, antes mesmo que haja julgamento do mérito. Algo semelhante ocorre quando hĂĄ trancamento de investigação – geralmente a pedido dos próprios investigadores do caso -, pois fica reconhecido que as provas reunidas não indicam crime, de modo que não é necessĂĄrio prosseguir com as apurações.

A divulgação das vitórias processuais de Lula coincide com o momento em que o petista aparece na frente em pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2022. Na sexta-feira passada, a primeira pesquisa Datafolha depois das manifestações antidemocrĂĄticas de 7 de Setembro mostraram o ex-presidente com ampla vantagem em relação ao presidente Jair Bolsonaro em caso de disputa no segundo turno do ano que vem. Se a disputa fosse realizada hoje, o ex-presidente venceria o atual por 56% a 31%.

Lava Jato

Em relação ao que veicula o PT, as alegações mais questionĂĄveis quanto à inocĂȘncia do ex-presidente envolvem os casos triplex do GuarujĂĄ, do sĂ­tio de Atibaia e sobre a compra de um terreno para o Instituto Lula, porque todas foram anuladas com base em decisões do Supremo que reconheceram a incompetĂȘncia da 13.ÂȘ Vara Federal de Curitiba para julgĂĄ-lo e a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro ao proferir as sentenças contra Lula.

Nessas situações, a validade das decisões foram desfeitas, mas dois dos casos ainda podem ser retomados, jĂĄ que o Supremo apontou erros processuais, e não ausĂȘncia de provas, como sugere a publicidade petista. À exceção do caso do sĂ­tio de Atibaia, cuja denĂșncia foi reapresentada e rejeitada pela Justiça do Distrito Federal, nos outros dois casos é possĂ­vel que as ações sejam reiniciadas.

"Todos começam o "jogo" do processo penal sendo inocentes. Se esse processo não termina de uma forma especĂ­fica, com o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, a pessoa continua, tecnicamente, sendo inocente", disse o advogado criminalista Fernando Castelo Branco, professor de Processo Penal da Faculdade de Direito da PontifĂ­cia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Manter o status de "inocente", no entanto, não é a mesma coisa que "ser inocentado" pela Justiça, como sustenta a defesa do ex-presidente, afirmou o professor. "É possĂ­vel que estejam (a defesa de Lula) carregando nas tintas para estender esse carĂĄter de anĂĄlise de mérito (a situações em que ela não aconteceu)", disse Castelo Branco. "Talvez a maioria dos casos não tenha tido essa anĂĄlise de mérito. Mas o fato é que ele (Lula) não perdeu a condição de inocente, muito embora não tenha tido um julgamento de mérito (em muitos dos casos)", observou o professor.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Banda B
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