Saúde Mundo

Países que concentram maioria das vacinas atravessam 4º onda de covid-19 causada pela delta

Por Brasil de Fato

05/09/2021 às 09:28:51 - Atualizado há

Para os organismos multilaterais, a América Latina tem sido afetada de maneira "desproporcional" por aspectos políticos e econômicos que impedem a aceleração da imunização e da aplicação de quarentenas radicais.

Para isso, a Organização Pan-Americana da Saúde anunciou a criação de uma plataforma para fabricar imunizantes na América Latina. A primeira iniciativa seria transferir tecnologia para que os países possam replicar fórmulas existentes.

"A proposta é interessante, mas vai depender da suspensão das patentes que está em discussão na Organização Mundial do Comércio. Não só a vacina, mas toda a cadeia produtiva está protegida pela propriedade industrial. Então os países dependem disso para não sofrer sanções", explica o advogado sanitarista Daniel Dourado.

Para a médica infectologista. a proposta de criar uma plataforma regional deveria fazer parte das políticas públicas de saúde de governos latino-americanos.

"Não basta que as indústrias farmacêuticas instalem suas estruturas nos nossos países. Devemos criar um polo regional. Do ponto de vista geopolítico, essa questão é estratégica. Avançar nesse aspecto nos permite descolonizar a produção de conhecimento. Nós temos condições de fazer isso no Chile, no Brasil, no México, Colômbia, Peru e outros lugares", ressalta.

O levantamento das patentes entrou em debate em outubro de 2020 na OMC, mas foi barrado três vezes pelo voto contrário dos Estados Unidos e da União Europeia.


A OMS prevê que a variante Delta, até 50% mais contagiosa que a cepa original do vírus sars-cov2, será predominante no mundo até final de 2022 / NIAID / Fotos Públicas

Novas plataformas

A pressão exercida pelos países ricos e a concentração de mercado das vacinas também influenciou na efetividade do Consórcio Covax, lançado pela OMS com a Aliança para a Vacinação (Gavi) e a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias (Cepi). O objetivo é reunir fórmulas suficientes para imunizar ao menos 20% da população de cada país que assinasse o acordo.

Segundo os últimos dados oferecidos, até julho, o Brasil e o México foram os países mais beneficiados com doses, porém outras nações, como a Venezuela, ainda esperam pelo primeiro lote.

"O consórcio Covax depende da doação de países ricos. A ideia é muito boa, inclusive é anterior à pandemia, mas a lógica de distribuição é a lógica de mercado", destaca Dourado.

O lobby das maiores farmacêuticas afetou o mercado global. Na Finlândia, em maio de 2020, cientistas desenvolveram uma fórmula contra o novo coronavírus, apelidada de "Linux", em alusão ao sistema operacional alternativo ao Windows, já que os pesquisadores da Universidade de Helsinki pretendiam distribuir a fórmula livremente, sem patentes.

Porém o governo optou por comprar doses da Moderna ao invés de investir na vacina própria. O governo de Vladimir Putin também acusa a União Europeia de fazer pressão política ao negar o acesso de turistas que tenham se vacinado com a Sputnik V.

No dia 1º de setembro, a Organização Mundial da Saúde inaugurou, em Berlim, um Centro de Inteligência para Prevenção de Pandemias e Epidemias, para, segundo o diretor geral, Tedros Adhanom, diminuir os problemas de "cooperação multilateral" diante de emergências sanitárias.

Enquanto alguns países continuam esperando pelas doações, outros começam a aplicar terceira dose em pacientes com mais de 60 anos. Para os especialistas a prioridade deveria ser aumentar a taxa de vacinação em todas as regiões antes de aplicar doses de reforço.

"Se devemos diminuir a dose viral no mundo, isso significa que a distribuição das vacinas deve ser equitativa. Deveríamos criar um sistema de pesquisa biomédica descentralizada, no qual Europa e EUA não sejam o centro, mas que outros países também tenham condições de desenvolver e produzir imunizantes, inclusive para pandemias futuras", defende Mercedes López.

Comunicar erro
Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo