A resolução que decreta a intervenção foi publicado na edição de hoje do DiĂĄrio Oficial da União. Segundo o CFM, uma vistoria realizada pela autarquia federal na regional fluminense, em janeiro deste ano, identificou situações como despesas elevadas e desnecessĂĄrias com aluguéis e condomĂnios; desrespeito às normas legais de compra e pagamento de fornecedores; falta de transparĂȘncia e controle em informações sobre concessões e pagamentos; conflito de interesse e uso indevido de recursos pĂșblicos.
Também teriam sido constatados, na vistoria de janeiro, aumento de despesa com pessoal sem observar exigĂȘncias legais; ineficiĂȘncia na gestão financeira; ausĂȘncia de responsabilização para decisões e ações tomadas; falta de controle e monitoramento em processos de dĂvida ativa e no pagamento de verbas a empregados e conselheiros.
Além disso, o Cremerj não teria cumprido a maioria das recomendações feitas na auditoria anterior, em junho de 2024. De 12 recomendações, de acordo com o CFM, apenas uma foi efetivamente implementada. O Conselho Federal destaca ainda que o Ministério PĂșblico Federal (MPF) jĂĄ tinha feito vĂĄrios pedidos de informação que não foram respondidos pelo Cremerj.
A resolução do CFM afasta a diretoria atual do Cremerj, que tomou posse em 1Âș de outubro de 2023 e que encerraria o mandato em 31 de maio deste ano. Apenas o corregedor, o vice-corregedor e diretor de sede e representações estão mantidos nos cargos, mas não terão direito a voz e voto nas reuniões de diretoria.
Em nota, a diretoria do Cremerj informou que não teve, até o momento, ciĂȘncia oficial do conteĂșdo da auditoria do CFM, "o que reforça a irresignação diante de uma medida extrema e arbitrĂĄria que viola o devido processo legal".
"O Cremerj tem se dedicado a oferecer cada vez mais benefĂcios aos médicos do estado do Rio de Janeiro, lutando por melhores condições de trabalho e remuneração justa para a classe. Nosso compromisso sempre foi com a valorização da medicina e a transparĂȘncia na administração dos recursos", acrescentou a nota.
O texto diz ainda que o Cremerj conta com R$ 20 milhões em caixa e repassou, no Ășltimo ano, R$ 30 milhões ao CFM. Além disso, destaca que os médicos aprovaram as contas de 2024 do conselho regional, em assembleia na Ășltima terça-feira (11).
"Reafirmamos que as contas do Cremerj são pĂșblicas e acessĂveis no Portal da TransparĂȘncia. Não hĂĄ qualquer fato que justifique a intervenção, senão interesses polĂticos que tentam desestabilizar um grupo legitimamente eleito. Essa ação nos parece uma clara represĂĄlia contra a postura independente e combativa do Cremerj na defesa dos interesses da categoria médica", diz a nota.
"Somos um dos poucos conselhos regionais que tĂȘm resistido à crescente partidarização dos conselhos de Medicina no Brasil. Essa tentativa de intervenção polĂtica tem como objetivo fragilizar uma gestão que sempre se pautou pela ética, transparĂȘncia e autonomia em relação a interesses externos. Lamentamos profundamente que questões polĂticas estejam sendo utilizadas para enfraquecer a representação médica, desviando o foco dos verdadeiros desafios da classe. Seguiremos firmes na defesa dos médicos e da autonomia do Cremerj, sempre pautados na ética, na transparĂȘncia e no respeito à categoria", conclui a nota.
Os conselhos federal e regionais de Medicina foram criados em 1945 para zelar pelos princĂpios de ética profissional no exercĂcio da medicina. Uma lei de 1957 deu aos conselhos o carĂĄter de autarquias federais, com cada um tendo personalidade jurĂdica de direito pĂșblico, autonomia administrativa e financeira.
Segundo a lei, suas funções são julgar e disciplinar a classe médica. Os conselhos regionais são subordinados ao federal e tĂȘm como funções especĂficas fiscalizar o exercĂcio da profissão do médico, expedir carteira profissional e manter o registro dos profissionais que trabalham em determinada região, entre outros.
A lei também prevĂȘ que cabe ao CFM promover diligĂȘncias e verificações nos conselhos regionais e, quando for necessĂĄrio, adotar providĂȘncias para sua eficiĂȘncia e regularidade, o que inclui a designação de diretoria provisória.
AgĂȘncia Brasil