Litoral censo dos papagaios

Censo do papagaio-de-cara-roxa no litoral de São Paulo encontra 83% em unidades de conservação

Entre os meses de maio e junho, a Fundação Florestal promoveu a mais recente contagem, também conhecida por "censo", da população de papagaio-de-cara-roxa residente em unidades de conservação (UCs) no litoral sul de São Paulo.

Por Da Redação

10/11/2024 às 12:37:57 - Atualizado há

Entre os meses de maio e junho, a Fundação Florestal promoveu a mais recente contagem, também conhecida por "censo", da população de papagaio-de-cara-roxa residente em unidades de conservação (UCs) no litoral sul de São Paulo. 

A espécie, que é endêmica do Bioma Mata Atlântica, ou seja, em todo o mundo, só existe nesse Bioma, vive nas planícies litorâneas do sul de São Paulo até o litoral do Paraná.

Papagaio-de-cara-roxa

Papagaio-de-cara-roxa | foto: Gabriel Marchi

No cenário de São Paulo, a Fundação Florestal vem viabilizando, desde junho de 2023, com o apoio direto da SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), a contagem dos papagaios-de-cara-roxa nas unidades de conservação de modo sazonal: durante o inverno, a primavera, o verão e o outono. A contagem do papagaio-de-cara-roxa do outono, entre maio e junho deste ano, a mais recente delas, celebrou o melhor resultado em soma de indivíduos da espécie avistados. Foram 1.452 indivíduos contabilizados. O número corresponde a 83% da população total estimada para toda a área de ocorrência do estado. 

O monitoramento de outono ocorreu em sete unidades de conservação paulistas. Em seis delas, os papagaios-de-cara-roxa foram avistados. A maioria dos registros (51%) foi na APA (Área de Proteção Ambiental) de Ilha Comprida e seu entorno. Mas eles também foram avistados na Estação Ecológica Chauás no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, na RESEX Ilha do Tumba no Parque Estadual Campina do Encantado e na RESEX Taquari. Já na Estação Ecológica da Juréia, apesar de o local também fazer parte da área de distribuição da espécie, não foram observados indivíduos durante o monitoramento populacional. No monitoramento da primavera de 2023 foram avistados 417 papagaios e no verão de 2024, 789

Elenise Sipinski. coordenadora dos projetos de fauna da SPVS, explica que os dados reforçam o fato de que as unidades de conservação onde estão localizadas as áreas de planície litorânea em melhor estado de conservação são essenciais para a sobrevivência do papagaio-de-cara-roxa. "São nessas áreas que os papagaios encontram os locais de abrigo e alimentação e cavidades adequadas para a reprodução. O período de outono é quando conseguimos registrar as maiores concentrações da espécie se deslocando para os dormitórios coletivos. Já na primavera e no verão, muitos casais permanecem próximos dos sítios reprodutivos e deixam de usar os dormitórios coletivos", explica. 

Roberta Boss, integrante da equipe técnica SPVS, reforça a importância da APA da Ilha Comprida e entorno (município de Cananéia) para o papagaio. "São os locais de preferência do papagaio-de-cara-roxa desde que iniciamos o monitoramento da espécie, em 2014. Os dados revelam o quanto a gestão desses dois municípios deve considerar a espécie nas suas ações de proteção, fiscalização, educação ambiental e turismo de natureza".

O papagaio-de-cara-roxa, vale lembrar, é impactado pela destruição de habitat em que vive e pela captura ilegal de filhotes, estando, por muitos anos, na lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção na categoria "Vulnerável". Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), atualmente está na categoria "Quase Ameaçada". Na lista estadual paulista de espécies ameaçadas de extinção ocupa a categoria Vulnerável. 

Parceria

Em 2023, a Fundação Florestal lançou um edital público para a contratação de serviços de monitoramento populacional e reprodutivo de duas espécies de papagaios que ocorrem no bioma de Mata Atlântica: o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) e o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea). A SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) foi a instituição contratada para a execução do programa. 

A parceria entre as instituições tem vigência de 36 meses e o objetivo de realizar o monitoramento populacional e reprodutivo das duas espécies em 13 unidades de conservação paulistas.

Os trabalhos tiveram início em julho de 2023 e devem se encerrar em junho de 2026. A intenção principal do levantamento é compreender a incidência e o uso que as duas espécies fazem das unidades de conservação no estado de São Paulo, um território aproximado de 253 mil hectares. Em sete delas, vive o papagaio-de-cara-roxa e, em seis, o papagaio-de-peito-roxo. 

A Fundação para a Conservação e Produção Florestal do Estado de São Paulo, ou apenas Fundação Florestal, é uma instituição da administração indireta vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (SEMIL). Atualmente, a instituição é responsável pela gestão administrativa, territorial e técnica de 152 áreas protegidas que somam quase 4,7 milhões de hectares, além de 1,1 milhão de hectares de área marinha ao longo do litoral paulista. 

Como o trabalho acontece 

O censo dos papagaios utiliza como método a presença em campo de pesquisadores e voluntários envolvidos nos projetos de conservação das espécies que, auxiliados por binóculos, permanecem em um locais fixos e pré-definidos por, aproximadamente, três horas, a fim de contar e tomar nota de todos os indivíduos que sejam avistados na área de atuação do projeto.

O trabalho acontece no período da manhã (antes do nascer do sol) ou no período do final da tarde (quando os papagaios se deslocam para seus dormitórios), conforme condições climáticas favoráveis. As contagens serão realizadas nos dormitórios já mapeados pela equipe da SPVS, tanto para o papagaio-de-cara-roxa quanto para o papagaio-de-peito-roxo. 

Papagaio-de-peito-roxo

Papagaio-de-peito-roxo | foto: Zig Koch / SPVS e Loro Parque

No caso do papagaio-de-peito-roxo, a maior contagem da espécie ocorreu no censo de verão, entre os meses de fevereiro a março deste ano. Nesse período, foram registrados 302 indivíduos. 

Foram registrados indivíduos em cinco unidades de conservação paulistas, nos municípios da Barra do Turvo, Cajati e Jacupiranga. Na estação da primavera, foram registrados 130 indivíduos, a maioria na APA Planalto do Turvo. No verão, foram os maiores registros: 302 indivíduos, sendo a maioria no Parque Estadual do Rio Turvo. E, o outono, foi a estação com menor registro, com apenas 71 indivíduos. Os três monitoramentos não registraram papagaios na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Quilombos. 

"Cabe ressaltar que o monitoramento populacional do papagaio-de-peito-roxo é mais desafiador devido ao tamanho reduzido da sua população e à vasta área que ocupa. A espécie é encontrada desde o sul da Bahia até o estado de Santa Catarina.  A população de papagaio-de-peito-roxo em toda a sua área de distribuição é estimada em 4.758 indivíduos, de acordo com dados do censo populacional do Programa Nacional para a Conservação do Papagaio-de-peito-roxo (AMA, 2018). A maior contagem realizada na região, até o momento, de 302 indivíduos, corresponde a 6,3% da população estimada", explica Elenise Sipinski, coordenadora dos projetos de fauna da SPVS. 

De acordo com moradores, havia um número elevado de papagaios na região onde é feito o monitoramento. "Mas o intenso roubo de filhotes e o desmatamento que ocorre há anos, em toda a área de distribuição da espécie é a causa principal dos baixos números registrados nos três monitoramentos populacionais que já realizamos", explica Lucas Mendes, também integrante da equipe técnica do projeto

Seleção das UCs 

A seleção das UCs envolvidas no projeto de monitoramento foi feita pela Fundação Florestal levando em conta o fato de que são áreas importantes para a conservação da biodiversidade da região. Durante o trabalho, a equipe técnica do programa vem buscando estimular o tamanho da população das espécies, localizar onde ficam os principais dormitórios e sítios reprodutivos dentro das UCs e nas áreas de entorno, fazer o acompanhamento e o monitoramento reprodutivo e compreender como os papagaios utilizam e interagem com o ambiente natural onde vivem. Também estão previstas ações de comunicação, interação com as comunidades locais e ações de educação ambiental para informar e sensibilizar as pessoas sobre a importância dos papagaios e das UCs para o equilíbrio e a conservação da Mata Atlântica. 

Para Edson Montilha, coordenador do programa pela Fundação Florestal, o programa de conservação é de extrema importância para produzir informações que devem melhorar aspectos importantes da gestão, como melhor inteligência na proteção da espécie, manutenção dos ninhos naturais, enriquecimento artificial e atividades de educação ambiental. "Com este programa, a Fundação Florestal assume um protagonismo nas ações de gestão e manejo de espécies ameaçadas de extinção", diz.  

Elenise Sipinski, coordenadora dos projetos de fauna da SPVS, complementa lembrando que as informações coletadas e apresentadas ao fim dos trabalhos, no primeiro semestre de 2026, serão de grande importância para contribuir com a Fundação Florestal na gestão dessas unidades de conservação. "Os dados de monitoramento populacional e reprodutivo devem subsidiar ações de proteção, uso público e educação ambiental das unidades e as atividades de comunicação e educação ambiental serão desenhadas para valorizar as UCs e toda a sua biodiversidade". 

Histórico de conservação 

A SPVS trabalha com a conservação das duas espécies no bioma de Mata Atlântica há anos. No caso do papagaio-de-cara-roxa, a instituição contratada pela Fundação Florestal tem experiência com a espécie desde 1998, quando implementou, no litoral norte do Paraná, o Projeto de Conservação do Papagaio-de-Cara-Roxa. Em 2013, as ações foram expandidas também para o litoral sul de São Paulo, e em 2023, a SPVS venceu o edital então lançado pela Fundação Florestal. 

Todas as ações do programa estão em consonância com o Plano de Ação Nacional (PAN) de Conservação dos Papagaios e mais recentemente com o PAN das Aves da Mata Atlântica. No caso do papagaio-de-peito-roxo, a experiência já vem desde 2018. 

Papagaio-de-cara-roxa

O papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) é uma espécie endêmica da Mata Atlântica, ou seja, existente só neste Bioma, podendo ser avistada desde o litoral sul de São Paulo (SP) até o litoral do Paraná (PR). A espécie é impactada pela destruição do seu habitat e pela captura ilegal de filhotes, estando por muitos anos na lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção na categoria Vulnerável, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), atualmente está na categoria Quase Ameaçada. Na lista estadual paulista de espécies ameaçadas de extinção está na categoria Vulnerável. No estado de SP a estimativa populacional é de, aproximadamente, 1.700 indivíduos.

O constante trabalho da Fundação Florestal, SPVS e várias instituições parceiras permitiu observar melhorias na condição de sobrevivência da espécie e, com isso, diminuir seu grau de ameaça. Não significa que a espécie esteja segura. Ao contrário, ela ainda necessita de medidas de conservação para que não retorne à Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. Sendo, neste sentido fundamental a continuidade do programa. Atualmente, a espécie tem uma população estimada em cerca de nove mil indivíduos.

Papagaio-de-peito-roxo

É uma espécie que se alimenta, principalmente, de frutos, mas também consome sementes, folhas, flores e seus rebentos. O pinhão, semente da araucária, é um dos principais itens consumidos pelo papagaio-de-peito-roxo no sul do Brasil. A espécie ocorre no Sudeste e Sul do Brasil, oeste do Paraguai e nordeste argentino. Precisam de buracos de árvores (ocos de troncos) e fendas formadas pela decomposição dos troncos para fazer os ninhos e se reproduzir. Com a degradação da Floresta com Araucária, foram perdendo a oferta de alimentação e os locais para a reprodução e abrigo. 

O papagaio-de-peito-roxo é muito capturado para o comércio ilegal. A espécie está na categoria Vulnerável, na lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Estima-se que existam hoje apenas cerca de cinco mil exemplares desta espécie no Brasil. 

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