Criada com o objetivo de acelerar a análise da legalidade de prisões em flagrante, as audiências de custódia têm promovido práticas que geram controvérsias na concepção de diferentes pessoas ligadas a segurança pública.
Criada com o objetivo de acelerar a análise da legalidade de prisões em flagrante, as audiências de custódia têm promovido práticas que geram controvérsias na concepção de diferentes pessoas ligadas a segurança pública. O caso mais recente disso ocorreu em São Paulo, na prisão de uma quadrilha detida por extorsão mediante sequestro, depois que uma das envolvidas, a vendedora Angélica Cristielly Silva Galindo, de 30 anos, afirmou que, para conseguir ter informações sobre o cativeiro do casal sequestrado, os policiais civis a asfixiaram com uma sacola plástica colocada na cabeça e deram tapas e puxões de cabelo, num ato de tortura.
A fala dela, foi feita durante a videoconferência diante do juiz Lucas Garbocci da Motta, defensores públicos e Ministério Público. Ao dizer que tinha sido torturada pelos policiais civis, houve um consenso entre os representantes da lei e foi determinada a soltura de todos os envolvidos no caso, mesmo sem que eles negassem participação no crime. Esta coluna ouviu alguns policiais que atenderam a ocorrência. Segundo os investigadores, a todo momento Angélica Cristielly Silva Galindo esteve acompanhada de um advogado de defesa e só revelou a suposta tortura na audiência virtual de custódia.
Angélica foi levada à Delegacia de Itaquaquecetuba depois de ser flagrada por policiais militares, com celulares, comprovantes de transações feitas com os cartões das vítimas no bairro Itaim Bibi, área nobre da capital paulista. Ela estava acompanhada por Laércio Duarte, 24 anos, foragido da Justiça e com passagens por roubo e extorsão mediante sequestro. Na audiência de custódia, ela chorou bastante, alegando as agressões. Angélica afirmou que só falou onde era o cativeiro por causa da tortura. Ao delatar onde ficava o abrigo da quadrilha, Mateus Costa da Silva, 27, e Wagner Guilherme Monteiro Diogo, 46, foram presos em Itaquaquecetuba.
Para justificar a soltura da mulher, o juiz disse que o relato de Angélica é "verossímil, a não ser que ela seja uma excelente atriz". Em momento algum foram solicitados laudos periciais confirmando as denúncias. Na decisão, o magistrado acrescentou que "o agente estatal não pode apurar um crime cometendo outro". Além de soltar o bando, o juiz ainda expediu uma medida protetiva em que proíbe toda a equipe de policiais civis, que estavam na Delegacia de Itaquaquecetuba no momento do flagrante, de se aproximarem de Angélica. Os agentes precisam manter uma distância mínima de 100 metros da suspeita.
O casal de empresários foi abordado pela quadrilha após sair de um restaurante, por volta das 15h10, em que almoçaram com o filho. Depois disso, parentes do casal não conseguiram mais entrar em contato com eles. Uma das filhas do casal notou que tinha algo de errado, quando começou a receber notificações do banco pelo celular, foi então que a família se dirigiu até a delegacia para pedir ajuda. Esta coluna não conseguiu contato com os defensores dos suspeitos. O Tribunal de Justiça de São Paulo também foi procurado para comentar a decisão do juiz, mas não retornou até a publicação deste texto. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo também foi procurada, mas também não respondeu.