PolĂ­cia Machismo

Lei Maria da Penha: 15 anos de combate à violência contra a mulher

Por Priscilla Peixoto - Da Cenarium

07/08/2021 às 08:43:33 - Atualizado hĂĄ


MANAUS – Sancionada em 7 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha de nÂș 11.340 de 2006 completa 15 anos neste sĂĄbado. A norma tem carĂĄter multidisciplinar e visa proteger mulheres que vivem em situação de violĂȘncia familiar e doméstica, com previsão de julgamento pelo Juizado Especializado em ViolĂȘncia Doméstica, que, inclusive, foi criado junto com a Lei Maria da Penha.

Ao contrĂĄrio do que muitos pensam, a lei não é voltada somente para os casos em que a mulher sofre agressão do cônjuge. Ela também ampara a vĂ­tima agredida por pai, mãe, filhos e cunhados, além de outros. A lei também "abraça", por exemplo, uma secretĂĄria do lar que reside no trabalho e passa por violĂȘncia cometida pelos patrões.

De acordo com a delegada titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM), Débora Mafra, a lei também salva a vida de testemunhas e familiares da vĂ­tima. "A mulher sofria toda e qualquer agressão dentro de casa e não tinha punição adequada. Essa lei traz uma segurança maior para as vĂ­timas, ela tira o agressor de dentro de casa, estabelece limites fixados pelo juiz", ressalta Mafra.

Dados

Em março de 2021, o Ministério da Mulher, da FamĂ­lia e dos Direitos Humanos (MMFDH) publicou os dados sobre violĂȘncia contra a mulher dos canais de denĂșncias dos direitos humanos do Governo Federal. Segundo o MMFDH, em 2020, das mais de 349 mil denĂșncias, somente nas plataformas do Ligue 180 e do Disque 100, mais de 105 mil eram sobre violĂȘncia contra a mulher.

Esses registros, representam 30,2% desse total de chamadas atendidas em 2020, por meio desses canais, que também recebem diversas denĂșncias sobre violações de direitos em grupos vulnerĂĄveis, como crianças e adolescentes, pessoas idosas e com deficiĂȘncia.

No Ășltimo dia 7 de março, a pĂĄgina oficial do Governo do Amazonas informou, que o serviço emergencial 190, do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), recebeu 9,2 mil ligações de mulheres em situação de violĂȘncia doméstica, ou seja, solicitando ajuda da PolĂ­cia Militar, só no ano de 2020. O pedido de socorro representou 9% do total de acionamentos daquele ano.

Os crimes mais registrados pelas mulheres nas delegacias do Amazonas são injĂșria, ameaça, lesão corporal, perturbação da tranquilidade e vias de fato. Segundo a Secretaria de Segurança PĂșblica, até junho de 2021, foram registrados 9.634 de violĂȘncia doméstica tendo mulheres como vĂ­timas. Dentre os registros estão: 2.878 casos de ameaças, 2.520 casos de injĂșria e 1.083 casos de lesão corporal.

Segundo a SSP, até junho de 2021, foram registrados 9.634 de violĂȘncia doméstica tendo mulheres como vĂ­timas (Reprodução/Pixabay)


Maria da Penha

A Lei Maria da Penha recebeu este nome por conta da história de vida e agressões sofridas pela enfermeira Maria da Penha Maia Fernandes. Maria foi casada com o economista Marco Antônio, teve trĂȘs filhas e vivia um casamento marcado por agressões e sucessivas tentativas de homicĂ­dios, entre elas um tiro de escopeta na espinha dorsal, quando tinha 38 anos de idade, deixando Penha paraplégica.

Após inĂșmeras tentativas de provar na Justiça as ações, Maria da Penha não se conformou com o fato do economista ser julgado e condenado duas vezes e sair em liberdade após entrar com recursos. A luta por justiça continuou e, no ano de 2001, o Brasil foi condenado por negligĂȘncia e omissão e por demorar a punir o agressor pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Em 2006, finalmente, o então presidente Lula sancionou a Lei 11.340, que levou nome de Maria em homenagem à luta e o senso de justiça da mulher, que não se calou diante do agressor. Inclusive, reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das trĂȘs melhores leis de combate à violĂȘncia contra a mulher. Vale ressaltar que a lei também abraça as mulheres trans e os casais homoafetivos femininos.

Em entrevista à Folha, Maria de Penha recordou trechos do sofrimento vivido. "Eu vivia uma situação de violĂȘncia doméstica. Não me atrevia a revidar, porque tinha medo de sofrer uma reação fĂ­sica. Sofria por me sentir muito mal na presença dele, de achar que os fins de semana eram os piores dias, porque ele estava em casa, não estava trabalhando. E também porque ele maltratava as crianças, não tinha paciĂȘncia", relembra.

Ela também é fundadora do Instituto Maria da Penha (Reprodução/Arte de Ana Luiza Costa)


Atualmente, aos 76 anos, a mulher que se tornou sĂ­mbolo da luta contra o violĂȘncia doméstica e contra a mulher no Brasil, é mestre em bioquĂ­mica pela Universidade de São Paulo, fundadora de instituto que leva o próprio nome. Além de ter registrado a história de luta no livro intitulado "Sobrevivi.. Posso Contar". "Minha maior conquista foi batizar a lei que protege todas as mulheres do meu PaĂ­s", declarou Maria da Penha.

Não se cale, denuncie!

DenĂșncias de casos de violĂȘncia domésticas podem ser realizadas pela vĂ­tima, familiares e amigos, por meio dos nĂșmeros 180, da Central de Atendimento à Mulher, e pelo 181, da Secretaria de Segurança PĂșblica do Amazonas (SSP). Nos casos de emergĂȘncia, o pedido de socorro pode ser feito diretamente pelo 190. Os dados do denunciante são mantidos em sigilo.

Comunicar erro
Jornalista Luciana Pombo

© 2024 Blog da Luciana Pombo é do Grupo Ventura Comunicação & Marketing Digital
Ajude financeiramente a mantermos nosso Portal independente. Doe qualquer quantia por PIX: 42.872.330/0001-17

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Jornalista Luciana Pombo