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Conceição Paludo: conheça a história de uma educadora popular que cumpriu bem a obra da vida

Conceição Paludo nasceu em Muçum, município do Rio Grande do Sul.


Conceição Paludo nasceu em Muçum, município do Rio Grande do Sul. Filha de trabalhadores rurais, desde cedo aprendeu com sua mãe e com seu pai a importância do conhecimento formal. Sempre contava que seus pais migraram do campo para que ela e seus irmãos pudessem continuar seus estudos.

E Conceição desde cedo aprendeu, e ao longo de sua vida ensinou a quem conviveu com ela, que como nos lembra Bertold Brecht, não basta aprender o básico, é preciso aprender tudo e assumir o comando. Dedicou sua vida para que as classes trabalhadoras pudessem ter acesso ao conhecimento mais profundo da realidade social, no seu lugar, sem precisar migrar para os centros urbanos.

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Formou-se pedagoga pelo Centro de Ensino Superior de Erechim, realizou seu mestrado e seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com sua tese, contribuiu para uma compreensão original sobre a Educação Popular, seus agentes, suas vertentes históricas e o potencial do Campo Democrático e Popular na transformação social.

Como uma intelectual orgânica (conforme a definição de Gramsci), Conceição atuou junto aos movimentos sociais populares e democráticos. Sabia que, como enfatizava Paulo Freire, "A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo" (FREIRE, 1996). Com Freire, Conceição aprendeu, e ensinou com o seu exemplo, que a ação criadora e modificadora da realidade, requer a práxis, a união orgânica e dialética entre a prática e a teoria.

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Iniciou sua experiência como educadora popular na década de 1980, junto à Pastoral da Juventude. Desde essa época, atuou em diversas organizações não governamentais como o CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional), no qual foi educadora e participou também da gestão. Atuou como educadora popular junto a movimentos sociais, como o Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do RS, MST, MTD, Movimento Sindical, entre outros.

Conceição participou da idealização e consolidação do Movimento Consulta Popular, do qual emergiu o Levante Popular da Juventude e o Movimento de Trabalhadores Desempregados (MTD), atualmente Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos.

Foi membra da equipe de implantação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, na qual atuou também como docente e contribuiu para a realização de diversos cursos junto aos movimentos sociais do campo, como o Escola da Terra. Desde então, contribuiu também com os projetos e a implantação das licenciaturas de Educação do Campo.

Foi também docente e pesquisadora da Universidade Federal de Pelotas, na qual além de pesquisas junto aos movimentos sociais, realizou cursos de formação junto ao movimento sindical e coordenou a primeira turma especial do curso de Medicina Veterinária, pelo Pronera. Nessa instituição, Conceição coordenou também a primeira edição do Observatório da Educação do Campo no Estado do Rio Grande do Sul, projeto que além de contribuir na formação de professores do campo e estudantes da graduação e Pós-Graduação, contribuiu na elaboração de políticas públicas de Educação do Campo e para o não-fechamento de escolas do campo na região Sul do Estado.


A professora Conceição Paludo formou muitos estudantes e militantes em Educação do Campo, na área da Educação e na luta pela Educação pública e de qualidade / Arquivo pessoal

Foi no âmbito do Observatório da Educação do Campo que Conceição idealizou e coordenou o primeiro Seminário Internacional de Educação do Campo, o Sifedoc, que reuniu educadores das escolas do campo e da cidade, importantes intelectuais da América Latina e militantes de movimentos sociais populares, na busca pelo aprofundamento da compreensão do papel do campo e da educação do campo, para um o projeto de uma nova sociedade e na elaboração de alternativas.

Em seus últimos anos de vida, Conceição atuou como docente e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na qual idealizou e coordenou a segunda edição do Projeto Observatório da Educação do Campo do Rio Grande do Sul. Nesta instituição, atuou nos cursos de licenciatura, na Licenciatura em Educação do Campo e no Programa de Pós-Graduação em Educação.

Contribuiu na formação de muitos graduandos, especialistas, mestres e doutores que, com pesquisas dos mais variados temas, mantiveram em comum a fundamentação no Materialismo Histórico e Dialético, base teórica e metodológica da práxis de Conceição, que com Marx sempre lembrava suas orientandas e seus orientandos, que mais do que interpretar o mundo, o que importa é transformá-lo.

A Cuti, como a família e os amigos próximos costumavam chamar, conciliou essa linda trajetória profissional e militante com a maternidade, com sua vida familiar junto aos irmãos e sobrinhos, com a literatura, com os filmes que adorava assistir e contar, com o cuidado de suas plantinhas, atividades que preenchiam seu curto tempo livre. Foi mãe de Ana, que fez sua passagem ainda bebê, e de Pedro, filho do qual, sempre orgulhosa, contava a todos que "a fazia muito feliz, pois tinha se tornado um bom homem".

Nesse dia 7 de dezembro estaria completando 68 anos, contudo em maio desse ano, Conceição nos deixou o vazio de sua presença física, mas também seu enorme legado. Sua marca não foi apenas o rigor, a disciplina e o trabalho, mas sobretudo, o amor pela humanidade, o comprometimento com as causas do povo, e a teimosa esperança em um mundo melhor, justo e fraterno.

Como seu amigo e também intelectual orgânico Paulo Cerioli lembrou, "Não basta que fiquem os registros (em livros e artigos). Muito menos que se torne uma pedra, com uma placa, num canto de canteiro qualquer. COM-SEI-AÇÃO!"

Que seu legado sempre nos inspire a seguir!

Conceição, presente!

Conceição, semente!

* Texto de autoria de Magda Santos. Uma homenagem das orientandas e orientandos do Coletivo Conceição Paludo.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.


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