"Se o rico pode comprar caríssimo, porque não dá para o povo da rua também comida sem veneno?", questionou Maria Fátima Pereira, cozinheira da Cozinha Solidária do MTST, enquanto preparava feijoada, couve, arroz e laranja para servir mais de 1 mil pessoas em situação de rua na Lapa, Rio de Janeiro (RJ), durante o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA).
"Se o rico pode comprar caríssimo, porque não dá para o povo da rua também comida sem veneno?", questionou Maria Fátima Pereira, cozinheira da Cozinha Solidária do MTST, enquanto preparava feijoada, couve, arroz e laranja para servir mais de 1 mil pessoas em situação de rua na Lapa, Rio de Janeiro (RJ), durante o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA).
A ação acontece desde novembro de 2021 em parceria com o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), que fornece os ingredientes agroecológicos. Mas, desta vez, a cozinha solidária da Lapa, no Rio de Janeiro, ganhou o investimento da Fundação Banco do Brasil por meio do novo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), O acordo reconheceu as cozinhas solidárias como política pública e estabelece a transferência de recursos para fortalecer os espaços, que surgiram para combater a fome durante a pandemia.
O apoio foi assinado nesta terça-feira (21) e é o primeiro que concretiza essa política. O recurso de R$ 140 mil contempla reforma do espaço, compra de equipamentos e alimentos agroecológicos da agricultura familiar para produção e distribuição de refeições gratuitas à população em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Para Glaucia Nascimento, da coordenação nacional do MTST, a ação é um reconhecimento de quem fez e faz na ausência do governo.
"A Cozinha Solidária nasce da vontade de lutadores, trabalhadores de acabar com a fome. E hoje, a gente ter esse reconhecimento aqui na Cozinha, da Jovita, Fatima, de Navo, Maria Helena, cozinheiras que saíram das ocupações para combater a fome de frente a frente, e elas se veem nessa política pública, elas construíram a política pública. A gente provou que o movimento social, nas ações do MTST, são sim exemplos de política pública", celebra.
Mariana Oliveira, assessora da Fundação Banco do Brasil, explica que a ação faz parte da integração com os ministérios do Desenvolvimento e Assistência Social, da Família e Combate à Fome (MDS) e do Desenvolvimento Agrário, além de BNDES, Conab e Consea em apoio à agroecologia. Outra ação assinada durante o CBA foi o relançamento do Programa de Fortalecimento das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica (EcoForte).
"O apoio às cozinhas solidárias é uma intenção da Fundação Banco do Brasil de atuar junto a políticas públicas para potencializar os resultados. A nossa intenção é trabalhar na segurança alimentar viabilizando produtos agroecológicos e agricultura familiar e a geração de renda também", pontua Mariana.
Só para o preparo da feijoada agroecológica entraram no prato ingredientes produzidos por mais de 50 famílias da agricultura familiar ligadas ao MPA da Baixada Fluminense, da região serrana e também de Sergipe, que produziu o arroz.
"Grande parte dessas famílias não tinha um mercado para poder colocar a produção, que não fosse um mercado convencional, ligado aos grandes grupos de distribuição. Então com o PAA, a gente começou a consumir outra rota, um outro mercado, um mercado institucional e também popular", relata Beto Palmeira, da coordenação nacional do MPA.
Durante o projeto, serão ofertadas duas refeições diárias para cerca de 200 pessoas, dentre as quais a população em situação de rua e trabalhadores informais como camelôs e trabalhadores de aplicativo. O apoio para a Cozinha Solidária está possibilitando, ainda, a distribuição de 2,5 mil refeições durante o Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) e é integrada à campanha Ação Contra a Fome.
"Hoje que durante esse período aqui do CBA nós estamos acompanhando e vendo essa capacidade com os movimentos sociais do campo e da cidade têm em abastecer a cidade com comida de verdade com comida agroecológica, que fortaleça o campo e que quem está na cidade possa, de fato, alimentação saudável e agroecológica", pontua Palmeira.
Em todo o país são 47 cozinhas solidárias do MTST, por isso Glaucia espera que esse seja só o começo.
"O que a gente quer depois desse congresso é que essa concretização se espalhe cada vez mais, porque a gente precisa de muitas cozinhas. Infelizmente, a fome ainda está assolando muito a população, e em especial a população negra. A gente espera daqui a um tempo que não precise mais ter campanhas de combate à fome. Daqui alguns congressos a gente possa apenas fazer debate, não precise de campanhas para combater essa realidade tão cruel que a gente está vendo na sociedade", afirma a liderança.
É o que reitera Palmeira: "Alimento é um direito de todos, é um dever do Estado, e a nossa luta é para que o Estado cumpra o seu dever, que é criar condições e políticas para que o povo possa comer e comer bem, comer comida agroecológica."