A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (6) proposta que prevĂȘ ações de prevenção do sofrimento psĂquico entre os jovens e cria um comitĂȘ gestor da PolĂtica Nacional de Prevenção da Automutilação e do SuicĂdio (prevista na Lei 13.819/19). O texto serĂĄ enviado ao Senado.
Foi aprovado um substitutivo da relatora, deputada Soraya Santos (PL-RJ), para o Projeto de Lei 2847/22, da deputada Jaqueline Cassol (PP-RO) e outros.
A principal novidade no texto da relatora é que tanto escolas quanto unidades de saĂșde ficarão obrigadas a notificar sobre os casos de automutilação de alunos, crianças e adolescentes. As escolas deverão informar o Sistema Ănico de SaĂșde (SUS); e as unidades de saĂșde deverão informar a autoridade sanitĂĄria (Anvisa).
"Trata-se de medida simples e que propiciarĂĄ tanto o acompanhamento dos casos quanto a geração de estatĂsticas, que poderão fundamentar as ações e polĂticas direcionadas ao combate do problema", disse a relatora.
Soraya Santos afirmou que, com a aprovação do projeto, a Câmara dĂĄ uma resposta positiva à sociedade. "Precisamos salvar nossos jovens", disse.
Capacitação profissional
O projeto é o resultado das atividades de um grupo de trabalho criado pela Câmara em 2021 e prevĂȘ capacitação de professores e de profissionais de saĂșde e de assistĂȘncia social para lidar com temas relativos à saĂșde psĂquica e ao sofrimento psĂquico. Esses temas também deverão ser incluĂdos nos projetos pedagógicos dos diversos nĂveis de ensino.
Entre os objetivos da polĂtica nacional, o projeto inclui a capacitação permanente de educadores para lidarem com todos os nĂveis de atenção quanto ao sofrimento psĂquico, aos transtornos psiquiĂĄtricos e às lesões autoprovocadas, incluindo tópicos de gestão emocional, uso de redes sociais digitais e detecção de sinais e sintomas dos transtornos mentais mais associados ao suicĂdio e à automutilação, assim como de prevenção ao uso de substâncias psicoativas e de sinais de alerta para risco aumentado de cometimento desses atos.
Pablo Valadares /Câmara dos DeputadosNo âmbito de parcerias entre o poder pĂșblico e empresas ligadas à internet (provedores de conteĂșdo, mĂdias sociais, sites de pesquisa), o texto determina que essas empresas tratarão com prioridade denĂșncias feitas em suas plataformas envolvendo a exposição ou atividade de crianças ou adolescentes.
ComitĂȘ gestor
O comitĂȘ gestor da polĂtica de prevenção serĂĄ composto por representantes de vĂĄrios ministérios e de outros órgãos e entidades, tendo como objetivos:
- desenvolver estratégias de implementação da polĂtica;
- monitorar a execução da polĂtica;
- propor ações de prevenção;
- contribuir para o aprimoramento da informação e do conhecimento do fenômeno da automutilação, da tentativa e do suicĂdio consumado; e
- propor e disseminar, de forma integrada, campanhas de comunicação social para prevenção da automutilação e do suicĂdio.
Atendimento psicossocial
Quanto ao acesso à atenção psicossocial pelas pessoas com histórico de ideação suicida, automutilações e tentativa de suicĂdio, o PL 2847/22 determina sua oferta em quantidade suficiente e concede prioridade a esse grupo.
O suporte psĂquico a pais, irmãos e familiares próximos das vĂtimas de suicĂdio serĂĄ oferecido na rede de atenção psicossocial, devendo ser garantido o treinamento dos profissionais de saĂșde a respeito deste tema.
Profissionais que atuam em serviços de urgĂȘncias ou salvamentos deverão contar com um protocolo de atendimento a ser elaborado pelo poder pĂșblico com base em evidĂȘncias cientĂficas e humanização dos atendimentos da pessoa com lesão autoprovocada.
Atendimento telefônico
Atualmente, a lei da polĂtica de prevenção jĂĄ determina a existĂȘncia de um serviço telefônico para atendimento gratuito e sigiloso de pessoas em sofrimento psĂquico.
O projeto aperfeiçoa o texto por meio da obrigação de se elaborar protocolos com base em evidĂȘncias cientĂficas e considerando-se as diferenças etĂĄrias, regionais e culturais.
Para crianças e adolescentes, deverĂĄ haver abordagem diferenciada. A formatação dos protocolos de atendimento contarĂĄ com a participação de jovens em sua elaboração e atualização, com o objetivo de adaptĂĄ-los ao contexto vigente.
Durante a votação em PlenĂĄrio, a autora da proposta, deputada Jaqueline Cassol, cobrou do poder pĂșblico mais ações na promoção de saĂșde mental. "Nós temos que falar cada vez mais sobre saĂșde mental, não pode ser tabu."
O deputado Lucas Gonzalez (Novo-MG) também defendeu o projeto. "As polĂticas de saĂșde mental devem continuar sendo debatidas por esta Casa para que nós sejamos exemplo na prevenção do suicĂdio, na promoção e na valorização da vida", declarou.
AgĂȘncia Câmara