G1
Em meio à dor da perda, a filha do motorista João Maria Pires, morto no deslizamento de terra na BR-376, afirmou querer seguir a profissão do pai e ser caminhoneira. O catarinense de São Francisco do Sul tinha 60 anos e foi o primeiro corpo retirado do local."Vai ser um orgulho para ele, porque ele conversava, sempre incentivou, sempre quando eu tocava nesse assunto, ele falava [...] 'ah se você não estivesse trabalhando podia ir comigo. [...] Uma homenagem ao meu pai. Se Deus quiser, eu vou fazer isso para onde ele estiver, ter orgulho, ver que foi um sonho realizado", disse Tatiane Cristina dos Santos Pires.O deslizamento aconteceu na segunda-feira (28) e matou um segundo caminhoneiro, de 51 anos. O caminhão de João ficou com a cabine pendurada para fora da pista. Ele foi encontrado pelas equipes de buscas fora do caminhão.Segundo Tatiane, ainda na noite de segunda ela foi informada que o pai poderia ser uma das vítimas. A motorista foi avisada pelo irmão e buscou a empresa para qual João trabalhava. O chefe do caminhoneiro foi até a casa dela e disse que a carreta estava em meio ao deslizamento, e que profissionais que faziam a escolta do veículo chegaram a procurar a vítima dentro da cabine, mas não o encontraram."Desespero, né? Desespero. Daí saber, será que está lá embaixo com vida? Será que vai chegar socorro, será que não vai? É muito triste. [...] A confirmação mesmo veio na terça-feira (28), umas 16h", relembrou.Amoroso e presente. Esta é a forma que João será lembrado pelos familiares. Ao Fantástico, Tatiane contou que os filhos muitas vezes acompanharam o pai nas viagens."A gente cresceu viajando com ele. Todo mundo. Ele era muito amoroso, sempre por perto. Desde criança a gente viajava com ele. Até que pegasse idade pra ir pra escola, minha mãe sempre acompanhou", contou.Ela também afirmou que João era um grande incentivador."[Aprendi a dirigir] com meu pai. Tanto que meu irmão mais velho seguiu a profissão, é caminhoneiro, já tem uns 10 anos", disse.Encerramento das buscasNa sexta-feira (2), o Governo do Paraná encerrou as buscas por desaparecidos no local depois de equipes de resgate conseguirem acessar todos os pontos onde poderiam estar vítimas e veículos.Segundo o Gabinete de Crise do governo, três carros e seis caminhões foram retirados do local.Agora, os trabalhos se concentram na limpeza da pista e reparos no asfalto para que a rodovia possa voltar a ser liberada. Segundo a Arteris Litoral Sul, concessionária do trecho, a via vai permanecer interditada pelo menos até terça-feira (6).Imagem aérea mostra destruição na BR-376 após deslizamento em GuaratubaParalelamente, a Polícia Civil abriu um inquérito para apurar possíveis causas e responsabilidades no deslizamento. O prefeito de Guaratuba, Roberto Justus, prestou depoimento após ter tigo o carro atingido pela lama e escapado do desastre.O Ministério Público Federal (MPF) também instaurou procedimento para investigar uma possível responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Para isso, foram notificadas a corporação e a concessionária Arteris Litoral Sul para envio urgente de informações.Dois dias após o deslizamento, a PRF afirmou em coletiva que a decisão sobre o fechamento da rodovia cabia à Arteris. Em resposta, a concessionária disse que ainda era prematuro apontar as causas do desastre.ResponsabilidadeEm ofício enviado à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na terça-feira (29), um dia após o deslizamento, a Arteris diz que "o talude onde ocorreu o sinistro apresentava nível de risco 0 na última monitoração periódica, sem ocorrência de patologias e com sistema de drenagem superficial satisfatória".