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Comandante de missão francesa acusa o Wagner Group de explorar o Mali: "Predação"

Por Da Redação

22/07/2022 às 22:11:33 - Atualizado há

O general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane de combate ao terrorismo, que está em processo final de retirada do Mali, acusou na quinta-feira (21) a organização mercenária russa Wagner Group de explorar o país africano. As informações são do site The Defense Post.

O Wagner Group firmou um acordo o coronel Assimi Goita, que assumiu o poder no golpe de Estado de 2021, para assumir as funções de Paris no combate ao terrorismo islâmico no Mali. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais

Michon foi mais específico, dizendo que os russos abocanharam uma fatia do negócio. “O código de mineração no Mali mudou, e agora um certo número de medidas foram tomadas para o Wagner explorar três jazidas de ouro”, afirmou o militar. “Isso se chama predação, pura e simplesmente”.

Soldados franceses da Operação Barkhane conversam com cidadão do Mali (Foto: Wikimedia Commons)

Segundo o general, os mercenários do grupo russo atuam como “traficante de drogas”, oferecendo ao governo do Mali “uma primeira dose de graça: proteção contra os franceses desagradáveis”. Depois das rápidas doses iniciais, eles simplesmente vão cuidar de seus próprios interesses.

Ele deu um exemplo desses resultados rápidos que parecem agradar Bamako. “No centro de Mali, eles prenderam 200 pessoas, que foram todas executadas logo depois”, disse Michon.

Retirada francesa

Desde o ano passado, as forças armadas francesas iniciaram um processo de retirada de tropas devido a um desacerto entre os governos da França e do Mali. A decisão gerou dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços na luta contra o jihadismo.

Segundo Michon, a retirada dos militares franceses não tem nenhuma relação com a chegada do Wagner Group ao Mali, como se especulava. Segundo ele, o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

A partir da saída do Mali, a Operação Barkhane tende a mudar sua abordagem e oferecer ajuda apenas aos países que a solicitarem. Nas palavras do comandante, os militares franceses oferecerão “suporte sob demanda, adaptado com flexibilidade para atender às intenções de tal ou tal país”.

Permanecerão no Sahel africano cerca de 2,5 mil soldados da França, que passarão a atuar como coadjuvantes, dando o protagonismo aos países anfitriões.

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Militarmente, especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao EI e à consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

Fonte: A Referência
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