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No cotidiano, as grandes barbáries

Por Da Redação

19/07/2022 às 05:45:19 - Atualizado há

Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla

Assassinos miniatura estão se espalhando por todos os cantos com uma velocidade espantosa, o Estado do Paraná na última semana foi palco de duas tragédias de proporções extremas, num dia, determinado cidadão vai até uma festa e aos berros dizendo ser favorável a certo candidato atira diversas vezes num outro cidadão que por sua vez era favorável a outro candidato, resultado: morte do segundo enquanto o primeiro encontra-se em estado grave. No segundo episódio, um policial militar mata a tiros diversas pessoas da sua família e alguns transeuntes que nada deviam e depois tirou a própria vida; em ambos os casos uma violência desmedida, sem igual, algo assustador que até então apenas com raríssimas ocasiões haviam acontecido no Brasil, a banalidade do mal atingiu níveis alarmantes, fazendo-nos lembrar de outros elementos desprezíveis que já surgiram por aí.

Quem de nós em algum momento da vida já não ouviu falar ou até mesmo leu algo sobre Napoleão Bonaparte, minúsculo em estatura, mas um gigante em relação à sua ambição e poder desmedido, por onde passou levou apenas ódio, terror, morte e também o rancor, marca característica daqueles que são pisoteados. Lutas a se perderem de vista, conquistas efêmeras aqui e ali deixaram na mente do pequeno corso a ilusão de que logo ele se tornaria o senhor do mundo; seu objetivo maior foi conquistar a Rússia, assessorado por pessoas ainda mais gananciosas do que ele, se embrenhou naquilo que seria o princípio do seu fim, resultado: uma derrota fulminante, humilhação e a morte de centenas de milhares de pessoas de ambos os lados, Napoleão ainda alucinado pelo poder foi derrotado em definitivo na Batalha de Waterloo, esse jamais aprendeu com os seus erros.

O século XX produziu incontáveis assassinos, destacamos apenas uma ínfima parte deles, o primeiro é Josef Stalin, uma pessoa comum nascido num lugar ainda mais comum para a sua época, amigo pessoal de Lênin, aos poucos foi galgando posto em todas as frentes, dando já sinais da sua mente expansionista. Tido por muitos como um medíocre inveterado, tinha uma voz melíflua, um estilo de vida um tanto recluso, mas que atraia um público excepcional; hoje sabe-se que ele perante os adversários não nutria compaixão e muito menos misericórdia, os gulags são exemplos vivos da sua extrema crueldade, basta para tanto lermos a obra monumental de Alexander Soljenítsin para se ter uma vaga ideia do que foi o seu regime de terror; até o dia de hoje a figura de Stalin povoa o imaginário de muitos, senão puxou o gatilho, com certeza sujou sua mão de sangue, ordenando mortes.

Retrocedendo ainda mais no tempo voltamos até Alexandre Magno (356 aC-323 aC), aquele mesmo que foi educado aos pés do filósofo Aristóteles e que preferiu viver dez anos a mil, do que mil anos a dez, como canta Lobão em sua “decadência com elegância”. Com o poder em suas mãos não pensou duas vezes e embrenhou-se em muitas campanhas para recuperar o mundo perdido ou mais ainda, ir até os confins do mundo daquele tempo até então conhecido. Alexandre pelo que os relatos nos chegam era alguém insaciável em seus desejos; retroceder, prudência, justa medida, comedimento, eram palavras que não existiam em seu vocabulário, certas fontes dão conta que ele morreu vítima de uma simples picada de inseto; pelo sim pelo não o legado de Alexandre perdurou na história, mesmo que para isso tenha cometido muitas atrocidades, o que é uma marca registrada de muitos.

Hoje em pleno século XXI, também temos os pequenos e grandes assassinos e o que mais surpreende é que eles não escondem seus rostos, sorriem fartamente para as câmeras, discursam e falam de paz como se fossem os salvadores do mundo, mas sem nenhum pudor ou vergonha massacram populações inteiras com todo tipo de armamento à sua disposição, isso tanto do lado de Putin, quanto do lado dos membros da OTAN. Todos eles se dando ao luxo macabro de remodelar o mundo e suas fronteiras, sem pensar em nada a não em seus próprios interesses; todos morrem um pouco em cada ato de violência, não só os grandes, mas também os pequenos, não sós os atores envolvidos na matança, mas também todos os seus satélites ao redor, aquele que sair vencedor do atual conflito ucraniano terá apenas uma vaga ilusão de poder, de soberania e equilíbrio de forças global.

Bioeticamente, ser assassino não é privilégio dos grandes da história, eles estão por toda parte, a qualquer hora do dia ou da noite podem cometer suas loucuras, pior disso tudo é que os encarregados em resolver tais questões mais do que rapidamente chegam a conclusões estapafúrdias, totalmente desconectadas com a realidade. Nossa sociedade não é de hoje vem padecendo sistematicamente de bom senso e razoável análise crítica sobre si mesma, condescendente em relação a casos de barbárie que tem se multiplicado e altamente implacável com as ninharias do cotidiano. A omissão diante do mal praticado em todas as frentes é praticamente global, cósmico, algo que chega a arrepiar até os ossos; guerra nenhuma nos trará paz, igualdade e justiça; nenhuma matança indiscriminada dos nossos semelhantes vai consolidar esse ou aquele sistema de governo; nenhuma reforma que apenas tenha por objetivo arroxar ainda mais a vida das pessoas nos dará segurança, pelo contrário, é nessas e noutras tantas situações que são gestados os novos assassinos.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR

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